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TENDÊNCIAS/DEBATES
O subsídio ao primeiro emprego é uma boa medida?
SIM
Juventude como solução
MARCIO POCHMANN
Gerações de brasileiros ao longo
do século passado questionaram o
fato de o país ter sido o último do mundo a abolir a escravidão, somente ao final do século 19. Apesar de dispor de
condições técnicas suficientes para
aprofundar a estrutura produtiva e ocupacional no trabalho livre, o país insistiu, por razões de ordem política, em
permanecer mais tempo sustentado por
modelo social ultrapassado.
Da mesma forma, atualmente, novas
gerações de brasileiros se perguntam
como é possível uma sociedade continuar a conviver com parcela crescente
de seus jovens marginalizada. Sabe-se
que a cada dois desempregados existentes no país, um possui menos de 25 anos
de idade, o que tem impulsionado a
emigração de talentos para outros países, como aconteceu na década de 1990,
quando cerca de 1,3 milhão de jovens
abandonaram o Brasil.
Não sem motivo, somente 1 de cada 10
jovens que ingressam no ensino básico
consegue completar a universidade, o
que se reflete, muitas vezes, no maior
flanco para a manifestação da violência,
que atinge hoje patamar superior ao de
vários países em conflito aberto.
Tudo isso tem contribuído para que,
geralmente, a juventude seja identificada como problema. Equívoco lamentável, posto que a juventude de um país
representa o que há de elevada positividade na solução de desafios existentes.
Desde a Constituição de 1988, o Brasil
avançou consideravelmente nas dificuldades associadas às crianças e aos adolescentes. O mesmo, contudo, não se
observa em relação à juventude, pois há
um verdadeiro vazio nas políticas públicas para o segmento das pessoas de 16 a
29 anos de idade, conceito etário mais
adequado para definir a fase juvenil.
O que existe, na maioria das vezes, é limitado, quando não equivocado tecnicamente, pois grande parte das políticas
para o jovem tende a condenar o filho
do pobre a ter de ingressar precocemente no mercado de trabalho. Isso está na
contramão do que acontece com os filhos dos ricos, que entram no mercado
de trabalho mais tarde, geralmente após
completarem pelo menos a universidade, ocupando, nas empresas, as vagas
superiores, com maiores remunerações, o que reproduz, por consequência,
a desigualdade de renda.
Três devem ser os eixos estruturantes
de uma ação pública para a juventude
brasileira. Inicialmente, a existência de
uma política econômica comprometida
com a sustentação de um rápido crescimento da produção e da ocupação. Simultaneamente, a definição de uma política redistributiva, capaz de garantir o
acesso a uma bolsa-renda direcionada à
elevação da escolaridade até o ensino
médio, acompanhado do exercício de
atividades comunitárias de pertencimento e protagonismo social para jovens com menos de 21 anos de idade
oriundos de famílias pobres. E, ainda, a
generalização de amplas oportunidades
de ocupação especificamente para jovens com escolaridade a partir do ensino médio.
Os eixos estruturantes de uma política
séria e adequada à juventude já existem.
No município de São Paulo, por exemplo, o segmento pauperizado da população com até 20 anos de idade dispõe
de bolsas de garantia de renda vinculadas à elevação da escolaridade (programas como Renda Mínima e Bolsa-Trabalho atendem 465 mil crianças e jovens
no ensino básico ou médio).
Ainda no âmbito da educação, a Prefeitura de São Paulo faculta aos jovens
carentes de 16 a 29 anos de idade com
ensino médio completo o acesso a uma
rede de curso pré-vestibular gratuito,
visando favorecer o acesso às principais
universidades, que contam com subsídio fiscal municipal para dar bolsas aos
estudantes pobres.
Em relação à inserção do jovem no
mercado de trabalho, duas são as alternativas públicas disponíveis no município de São Paulo. De um lado, aos jovens que se encontram no ensino médio
ou superior, a prefeitura disponibiliza
uma linha de estágios no setor produtivo como meio de permitir a formação
ocupacional no próprio local de trabalho, através de financiamento de parte
dos custos operacionais das empresas.
De outro lado, para os jovens que concluíram o ensino médio ou superior, a
prefeitura financia o custo da qualificação e da experiência profissional no
próprio local de trabalho, para as empresas que contratem com carteira assinada.
Em suma, o Brasil possui uma juventude que continua a ser uma solução.
Precisa, todavia, de uma efetiva e universal política pública inteligente, que
termine por revelar a concepção de uma
sociedade que enfrente seus principais
desafios.
Marcio Pochmann, 40, economista, professor licenciado do Instituto de Economia da Unicamp,
é secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo.
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