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TENDÊNCIAS/DEBATES
O subsídio ao primeiro emprego é uma boa medida?
NÃO
Primeiro emprego e primeiro namoro
HÉLIO ZYLBERSTAJN
Em todos os países, a taxa de desemprego dos jovens é maior do
que a dos demais grupos etários. A explicação usual é que os jovens teriam dificuldade de arranjar emprego, principalmente o primeiro emprego. As empresas prefeririam contratar trabalhadores "com experiência".
O remédio sugerido é subsidiar o primeiro emprego. Pagar para as empresas
contratarem trabalhadores inexperientes. Mas as políticas de subsídio custam
muito caro e em geral fracassam. Ou
não reduzem o desemprego entre os jovens, ou deslocam o desemprego destes
para outros grupos, pois as empresas
substituem os trabalhadores que normalmente contratariam por jovens, para ganhar o subsídio do governo.
No Brasil, uma política de subsídio ao
primeiro emprego seria um duplo engano. Primeiro, devido à probabilidade de
fracasso, que é grande. Segundo, por ser
um desperdício de recursos num momento de severa restrição fiscal. O que
fazer? Por que o diagnóstico que leva ao
subsídio está errado?
Na verdade, os jovens não têm dificuldade de arranjar emprego. Ou, pelo menos, a dificuldade dos jovens não é
maior que a dos trabalhadores mais velhos. Há, sim, empregos para os jovens.
Ocorre que os jovens têm dificuldade
em permanecer muito tempo nos primeiros empregos. Para entender por
quê, basta comparar a procura de emprego à busca do casamento. Em geral,
os jovens não se casam com o primeiro
namorado. Eles não têm dificuldades
para encontrar um namorado, mas seus
primeiros romances são curtos.
Com o passar do tempo, os jovens ficam experientes, encontram alguém e
formam, então, um par mais permanente. A proporção de "avulsos" entre
os jovens é mais alta do que entre os
mais velhos não porque os jovens não
namoram, mas porque seus namoros
são curtos. Há sempre muitos jovens
"procurando" namorados. E é bom que
seja assim, pois a rotatividade nos romances da juventude acaba produzindo
melhores encontros definitivos.
Com o emprego é a mesma coisa. Os
jovens "rodam" mais porque experimentam as empresas e são experimentados por elas. Isso é bom. Com o tempo, encontram uma vaga e criam um
vínculo mais duradouro.
Esse diagnóstico alternativo explica
por que a política de subsidiar o primeiro emprego seria um erro. Ela induziria
"casamentos" precoces e ineficientes.
Seria um desperdício, porque os casamentos não durariam. Para reduzir o
desemprego dos jovens, seria melhor
ajudar o mercado a fazer a rotatividade
necessária entre eles, mas com menor
tempo de procura de emprego e com
menores custos para as empresas.
Como? Uma possível solução é um
consórcio de empregadores de jovens,
uma pessoa jurídica formada voluntariamente por um grupo de empresas.
Uma empresa do consórcio contrataria
um jovem formalmente. Se não desse
certo, ele seria liberado para procurar
outra empresa do mesmo consórcio.
Demoraria menos para encontrar uma
nova vaga, pois o jovem se candidataria
automaticamente a todas as vagas oferecidas no consórcio. O vínculo de emprego seria com o consórcio, não com
as empresas. A troca de emprego dentro
do mesmo consórcio não seria um desligamento.
Enquanto o jovem estivesse "rodando" entre as empresas do consórcio, nenhuma delas teria que pagar o aviso
prévio nem a multa do FGTS. Depois de
um certo tempo, se o jovem não tivesse
encontrado o "casamento" definitivo,
seria finalmente desligado, com o pagamento de todos os direitos, rateados entre as empresas que tivessem utilizado
seu trabalho. Se, por outro lado, o jovem
se fixasse em alguma das empresas, esta
o efetivaria e ele sairia do consórcio.
O consórcio reduziria o custo de contratar jovens porque o pagamento das
verbas rescisórias ocorreria apenas uma
vez e seria rateado. Para os jovens, os
custos e o tempo de procura de emprego a cada desligamento seriam grandemente reduzidos. Mas a maior vantagem é que o governo não gastaria nada.
Seria um programa de grande alcance
social, sem custos para os contribuintes,
pois utilizaria recursos existentes. As
empresas se organizariam voluntariamente em cobrindo regiões ou bairros
das grandes cidades. Seriam cadastrados nas agências públicas existentes (Sine, Centros de Solidariedade, Centrais
de Emprego e Renda etc.). Os jovens à
procura de emprego também se cadastrariam nessas agências, formando
pools de trabalhadores disponíveis na
região.
Num momento em que as empresas
demonstram que estão dispostas a assumir sua responsabilidade social, não seria difícil mobilizá-las para ajudar os jovens a se tornarem mais experientes no
mercado de trabalho. Principalmente
porque, ao ajudá-los, as empresas estariam também se ajudando, reduzindo
os custos de encontrar os jovens que
melhor se adaptam às suas vagas.
O primeiro emprego é parecido com o
primeiro namoro: todos querem experimentar, mas é difícil saber com quem.
Em vez de pagar por algo que as pessoas
vão acabar fazendo, não seria melhor
simplesmente ajudá-las a encontrar o
melhor parceiro?
Hélio Zylberstajn, 57, professor da Faculdade
de Economia e Administração da USP, é pesquisador da Fipe, onde coordena o Programa Mediar - Informações para a Mediação Estratégica
entre Trabalho e Capital.
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