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MELCHIADES FILHO
Ser mãe é...
BRASÍLIA - A mensagem de Lula
quando trocou Dilma Rousseff de
ministério, em 2005, foi clara. O
momento pedia uma Casa Civil
"técnica", menos dedicada ao PT e
mais às urgências da máquina administrativa. Um contraponto à
gestão de José Dirceu, que caíra por
não reconhecer fronteiras entre os
interesses do partido e os projetos
executivos do governo.
Dilma topou a narrativa e abraçou o papel de gerente. Não fez média nem com a cúpula petista. Dispensou quadros do partido e cercou-se de pessoas de sua confiança.
A meia dúzia de escolhidas haviam-na acompanhado em outras
etapas da carreira pública ou eram
amigas dos tempos de guerrilha.
Mulheres, como ela, dispostas a abdicar da vida "civil" e se entregar ao
trabalho todo o dia, todos os dias.
Erenice Guerra havia causado
boa impressão em Dilma nas Minas
e Energia, não só pela eficiência como consultora jurídica mas porque
se parecia com a chefe: pau pra toda
obra, discreta e difícil de intimidar.
Não à toa, uma vez nomeada secretária-executiva, logo ficou conhecida como "a Dilma da Dilma".
Impessoal e intransigente, replicava a titular nos eventos menos badalados, ao lidar com os pleitos de
políticos desimportantes e na condução do que não fosse do PAC (da
reforma do Palácio do Planalto ao
motim dos controladores aéreos).
Daí o espanto com a revelação de
que a "técnica" Erenice encomendou a coleta de dados sigilosos e a
edição de um catatau com gastos de
FHC e da ex-primeira-dama -munição contra ataques da oposição.
Seria precipitado traçar paralelo
com Waldomiro Diniz, o assessor
de Dirceu acusado de negociar concorrências com bicheiros. Ou com
os "aloprados" que contrataram
uma denúncia falsa com dinheiro
de origem até hoje desconhecida.
Ou com o Caseirogate de Palocci.
Mas o núcleo do governo que se
dizia "acima da política" no mínimo
perde essa marca. A mãe do PAC, e
de Erenice, deve explicações.
mfilho@folhasp.com.br
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