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São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2003

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MENEM CONTRA KIRCHNER

Pela primeira vez na história, uma eleição presidencial na Argentina será decidida no segundo turno. Nenhum dos pleiteantes, no domingo, conseguiu superar a marca dos 25% dos votos. A fragmentação da preferência do eleitorado foi a principal característica do escrutínio do qual emergiram Carlos Menem e Néstor Kirchner. Apesar de serem do mesmo partido, o peronista, o significado das duas candidaturas finalistas não se confunde.
Menem (24% dos votos) presidiu a Argentina de 1989 a 1999. Foi o responsável por um programa econômico que privatizou praticamente tudo e que atrelou o valor do peso ao do dólar. Ao custo do aumento do desemprego e da desigualdade social, o desempenho da economia argentina foi razoável até meados da década passada. A partir da crise do México (no final de 1994), iniciou-se uma fase de altos e baixos que culminou na depressão de 1999-2002, quadriênio em que o PIB declinou mais de 18%. A política econômica implantada por Menem e endossada por seu sucessor, Fernando de la Rúa, esteve na origem da "débâcle".
Outra marca indelével da gestão Menem foram os escândalos. Vinte e três altos funcionários de seu governo enfrentam processos judiciais por corrupção. O ex-presidente, vale lembrar, esteve sob prisão domiciliar em 2001, acusado de envolvimento num caso de contrabando de armas.
O adversário de Menem, Néstor Kirchner (22% dos votos), ainda tem pouca expressão nacional. Governador da Província de Santa Cruz, foi alçado ao segundo turno, em boa medida, graças a seu padrinho político, o presidente Eduardo Duhalde -cujo prestígio, se não é vigoroso, segue em recuperação pelo fato de ter logrado exercer sem traumas profundos um delicado papel na transição política e econômica por que passa o país desde o final de 2001.
Fator decisivo para o pleito de 18 de maio próximo será, sem dúvida, o comportamento da rejeição a Menem. Será como um plebiscito para saber se os argentinos renovam suas apostas num grupo político que dominou durante uma década a Casa Rosada ou se, exorcizando esse passado, partem para uma renovação, embora de resultados imprevisíveis.


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