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CARLOS HEITOR CONY
Canteiro de obras
RIO DE JANEIRO - Melancólica, para não dizer ridícula, a ida a Brasília
dos governadores de vários partidos e
procedências para convencer o governo federal a liberar recursos para investimentos e obras. A tradicional
desculpa da União sempre foi a da
falta de dinheiro. Desta vez, nem
houve desculpa. Há dinheiro em caixa, mas destinado a pagar dívidas internacionais que nunca serão pagas
integralmente. E para obter do FMI
os elogios de que tanto a equipe econômica do atual governo se orgulha.
Voltaram todos de mãos vazias, o
Planalto acionou seus meios de pressão, nem foi preciso convencer ninguém, o trator da chamada "base de
sustentação" passou por cima de argumentos que, uns pelos outros, seriam indestrutíveis. Estados e municípios precisam crescer ao menos vegetativamente, mesmo sem o espetáculo prometido pelo presidente da
República.
Até agora, com quase ano e meio de
poder, o governo continua gastando
tempo e energia para armar uma estrutura de sustentação política que
passa ao largo das necessidades da
administração pública. A cada lance
de bastidor entre os líderes da base,
mudam-se ministros e dirigentes de
estatais, demite-se a pedidos ou sem
pedidos, não importa se a troca é boa
ou má, importa é saciar a fome dos
partidos que se habilitam ao prato de
lentilhas fornecido pelo Planalto.
O PT aprendeu que sozinho não
pode fazer nada além de assembléias
em vários níveis e propósitos. Paga o
preço de suas recentes alianças, desde
que não atrapalhem a eterna vocação pelo discurso, a predominância
de alas, a exaustiva análise de como
tomar o poder e o que fazer dele.
Por força dessas alianças, as mais
extravagantes, o partido continua
arrumando os quadros do governo,
arrumação que nunca fica realmente
arrumada. A cada necessidade da
sua base, o governo ameaça governar. Seu maior canteiro de obras é o
"Diário Oficial" da União.
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