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VALDO CRUZ
Gosto pela coisa
BRASÍLIA - Cena passada no governo Fernando Henrique Cardoso e relembrada, dias desses, por um ex-ministro do tucano por causa do escândalo dos Correios, protagonizado por
um apadrinhado do PTB.
Articulador político de FHC, o então ministro recebia em seu gabinete
deputados do PP de Severino Cavalcanti para discutir uma indicação
política no governo federal. O diálogo
foi mais ou menos esse:
"O nome que vocês estão indicando
tem o perfil adequado para o cargo"?,
perguntou o ministro. "Claro, é competente, sério, conhece a área", foi a
resposta que se ouviu no gabinete.
O ministro quis saber, então, se o
apadrinhado era honesto. "Honestíssimo, honestíssimo", bradaram os
deputados. "Ah, então não vamos
nomear, não. Daqui a um mês vocês
vão pedir para trocar."
Real, o diálogo irônico mostra que
o governo de plantão sabe muito bem
o que alguns parlamentares pretendem com indicações políticas: negócios. Daí alguém honesto não ter perfil para durar no posto.
Óbvio que não podemos generalizar. No governo há funcionários honestíssimos. Mas a série de escândalos dos últimos anos indica também
que a praga do fisiologismo é a porta
de entrada daqueles em busca de
maracutaias.
Não é de hoje que é assim. Boa parte da nossa classe política sobrevive
dessa forma. Alguns fazem bem mais
do que isso -enriquecem.
Sem maioria no Congresso, o governo Lula também se entregou a essa
prática. Mais uma das inúmeras que
antes, na oposição, criticava sem dó.
De fato, num governo em minoria
congressual é preciso dividir espaço
com os aliados. O petismo, porém, foi
além dos tucanos. Escancarou a política de distribuição de cargos.
Resignados, os petistas dizem hoje
que, infelizmente, não há outro caminho para governar o país. Triste
sentimento fatalista. Em determinados casos, trata-se de algo pior: tomaram gosto pela coisa.
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