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CARLOS HEITOR CONY
Mata e esfola
RIO DE JANEIRO - Recebo e-mail de um leitor, com a cópia da mensagem
que enviou a um colunista da Folha,
um dos mais ilustres, lidos e respeitados do país (evidente que não sou
eu). O leitor reclama dele as restrições
que faz ao governo Lula, atribuindo-lhe uma ligação inexistente com o governo do ex-presidente FHC, ligação
que explicaria suas críticas ao atual
governo.
Tem mais: ignorando o pluralismo
que um jornal deve manter, ele reclama do colunista por estar ao lado de
outros "colunistas" -e cita alguns
dos articulistas que, periodicamente,
escrevem na página A3, dedicada, como diz o seu título, a "Tendência/Debates". De forma explícita, declara
que o colunista não mais merece credibilidade, dada a má companhia de
outros "colunistas" que exercem ou
exerceram atividade pública que ele,
leitor, execra e acredita que todos
execram.
É comum o equívoco, e até mesmo
a ignorância de alguns leitores, sobre
a necessidade da imprensa de abrigar os contraditórios, as opiniões que
ficam sob a responsabilidade de
quem as emite. Opiniões e comentários que não representam, em absoluto, a opinião do jornal. E muito menos a dos colunistas, que não devem
ser confundidos com os articulistas
da página A3.
Há leitores que formam uma opinião sobre determinado fato ou personagem da vida pública e exigem
linchamentos na base do "mata e esfola". Não admitem o outro lado, a
versão que, falsa ou verdadeira, eles
têm o direito de expressar, não apenas na mídia, mas na polícia ou na
Justiça, se a causa chegar até lá.
Evidente que há um certo consenso
sobre alguns personagens que ocuparam cargos públicos, desde a Presidência da República a ministérios,
governos estaduais e prefeituras importantes como a de São Paulo. Alguns leitores desinformados e radicais, se pudessem, enforcariam liminarmente aqueles que julgam no lado do mal. E ficam irritados, clamando por sangue, exigindo a ditadura
da opinião única.
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