São Paulo, domingo, 29 de maio de 2005

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CARLOS HEITOR CONY

Mata e esfola

RIO DE JANEIRO - Recebo e-mail de um leitor, com a cópia da mensagem que enviou a um colunista da Folha, um dos mais ilustres, lidos e respeitados do país (evidente que não sou eu). O leitor reclama dele as restrições que faz ao governo Lula, atribuindo-lhe uma ligação inexistente com o governo do ex-presidente FHC, ligação que explicaria suas críticas ao atual governo.
Tem mais: ignorando o pluralismo que um jornal deve manter, ele reclama do colunista por estar ao lado de outros "colunistas" -e cita alguns dos articulistas que, periodicamente, escrevem na página A3, dedicada, como diz o seu título, a "Tendência/Debates". De forma explícita, declara que o colunista não mais merece credibilidade, dada a má companhia de outros "colunistas" que exercem ou exerceram atividade pública que ele, leitor, execra e acredita que todos execram.
É comum o equívoco, e até mesmo a ignorância de alguns leitores, sobre a necessidade da imprensa de abrigar os contraditórios, as opiniões que ficam sob a responsabilidade de quem as emite. Opiniões e comentários que não representam, em absoluto, a opinião do jornal. E muito menos a dos colunistas, que não devem ser confundidos com os articulistas da página A3.
Há leitores que formam uma opinião sobre determinado fato ou personagem da vida pública e exigem linchamentos na base do "mata e esfola". Não admitem o outro lado, a versão que, falsa ou verdadeira, eles têm o direito de expressar, não apenas na mídia, mas na polícia ou na Justiça, se a causa chegar até lá.
Evidente que há um certo consenso sobre alguns personagens que ocuparam cargos públicos, desde a Presidência da República a ministérios, governos estaduais e prefeituras importantes como a de São Paulo. Alguns leitores desinformados e radicais, se pudessem, enforcariam liminarmente aqueles que julgam no lado do mal. E ficam irritados, clamando por sangue, exigindo a ditadura da opinião única.


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