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Turbulência e juros
Será lamentável se uma avaliação equivocada da alta do dólar levar o BC a optar por interromper a redução da taxa de juros
OS ÚLTIMOS dias foram
marcados por flutuações bastante fortes
nos mercados financeiros, tanto no exterior como
em nosso país. O comportamento do preço do dólar no Brasil,
em particular, chamou a atenção. Tendo iniciado o mês em
forte tendência de queda -chegando à cotação de R$ 2,05, a
mais baixa em vários anos-, a
partir de meados do mês o dólar
teve alta muito rápida, chegando
em poucos dias a superar o valor
de R$ 2,40, o que não ocorria havia meses. Na sexta-feira, fechou
a R$ 2,24.
O aumento da volatilidade do
câmbio nos últimos dias não foi
um fenômeno apenas nem fundamentalmente brasileiro. De
fato, o conjunto das moedas das
chamadas economias emergentes transitou abruptamente de
movimentos de valorização ante
o dólar para um pico, depois matizado, de desvalorização -refletindo o aumento da aversão a
aplicações mais arriscadas dos
investidores internacionais.
A intensidade desses movimentos no caso do Brasil foi,
mais uma vez, destacadamente
maior. Uma oscilação de quase
20% em poucos dias parece justificar a caracterização que o deputado e ex-ministro Delfim
Netto fez da versão brasileira do
sistema de câmbio flutuante:
aqui, o câmbio não flutua propriamente -ora "voa", ora
"afunda".
Tamanhas flutuações, em espaço de tempo tão curto, não são
saudáveis. Geram incertezas que
prejudicam a tomada de decisões
pelos agentes econômicos em
geral. Havendo condições para
moderar tais flutuações, seria recomendável fazê-lo.
Embora o "vôo" recente da cotação do dólar tenha despertado
atenção, ele não chega a ser muito preocupante. Primeiro, porque o nível atingido pela moeda
americana não parece capaz de
causar impacto inflacionário relevante. Depois, porque, embora
circunstancialmente interrompida pela "fuga" concentrada no
tempo de investidores externos,
a situação mais geral de "sobra"
de dólares na economia não ficou abalada. O excedente de exportações sobre importações
continua muito alto e, somado a
entradas de investimento produtivo, configura uma oferta de dólares mais do que suficiente para
atender à demanda.
Mais preocupante do que esse
"vôo" da cotação do dólar -que
poderá até se prolongar por mais
algumas semanas, mas muito dificilmente terá grande fôlego-
era o movimento prévio de
"afundamento" do seu valor.
Movimento que pode voltar a ser
observado, talvez dentro de pouco tempo, se a turbulência financeira internacional refluir.
Sabe-se que a elevada taxa de
juros básica praticada no Brasil
constitui um dos principais vetores a alimentar a tendência de
apreciação do real. Será lamentável se uma avaliação equivocada do fôlego e dos impactos da
recente alta do dólar levar o Banco Central, em sua reunião de depois de amanhã, a optar por interromper a redução da chamada Selic, conforme chegam a cogitar alguns analistas.
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