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KENNETH MAXWELL
O importante é faturar
ATÉ ONDE SEI, os países de
fala inglesa jamais tentaram
impor uma ortografia mundial para o inglês, a despeito do fato
de que as diferenças entre o inglês
nos Estados Unidos e o inglês falado na Inglaterra sejam bem menores do que aquelas que separam o
português de Portugal do português brasileiro.
Mesmo assim, certas palavras
em inglês podem ter significados
bem diferentes nos dois lados do
Atlântico.
Tomemos, por exemplo, a palavra "classe", algo que os norte-americanos supostamente não
têm, mas os ingleses sim; classe,
quero dizer, no velho sentido marxista, de grupos sociais distintos,
hierarquicamente organizados.
Em termos gerais, "classe", nos
EUA, implica estilo, um atributo
pessoal evidente na qualidade do
comportamento e do caráter. Mas
o que existe de mais estranho no
Reino Unido hoje em dia é que falta
à família que está acima das classes
sociais, a família real dos Windsor,
qualquer "classe" no sentido americano do termo.
Dois acontecimentos da semana
bastam como prova.
Na capela de Saint George, no
castelo de Windsor, Peter Phillips,
o mais velho dos netos da rainha, se
casou com uma canadense chamada Autumn Kelley. O casal vendeu
os direitos fotográficos da cerimônia à revista "Hello!" por meio milhão de libras. Ian Gibson, que representa os trabalhistas no Parlamento, se queixou: "O povo britânico esperaria que a rainha estivesse acima da posição de tema de reportagem na "Hello!". Afinal, ela é a
rainha, e não a mulher de um jogador de futebol".
E temos também o caso do príncipe Andrew, o segundo filho da
rainha. O príncipe Andrew vendeu
sua casa de campo, Sunningdale
Park, para um certo Kanes Rakishev, por 15 milhões de libras. Rakishev, 29, é o genro do ex-primeiro-ministro do Cazaquistão, uma
antiga república soviética rica em
petróleo e gás natural que ocupa a
150ª posição na lista de corrupção
da Transparência Internacional (o
Brasil ocupa o 72º posto).
O príncipe recebeu 438 mil libras dos contribuintes britânicos
no ano passado em seu papel como
"embaixador do comércio". Ele
certamente comerciou bem com
Rakishev, que pagou três milhões
de libras acima do preço inicialmente solicitado por Sunningdale
Park, uma propriedade que estava
à venda havia cinco anos.
Não há classe nenhuma nisso,
apenas uma fria transação monetária, que os brasileiros veriam no
ato. Os proprietários britânicos de
imóveis residenciais cujos valores
estão em queda livre decerto
adorariam ter um amigo cazaque
como esse.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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