São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 2005

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VITÓRIA FUNDAMENTALISTA

A vitória do ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad na eleição presidencial iraniana é um daqueles fatos que surpreendem, mas, quando analisados "a posteriori", parecem fazer sentido. Mais do que um triunfo do conservadorismo religioso, o resultado do pleito marcou a derrota do projeto reformista, cujo principal expoente, o presidente Muhammad Khatami, deixará o cargo agora, depois de dois mandatos.
Discute-se se houve ou não fraude nas eleições. É bastante possível que sim. Notícias de irregularidades isoladas chegaram aos meios de comunicação. Mas não há denúncias de falsificações maciças, necessárias para alterar o resultado. Ahmadinejad derrotou seu rival no segundo turno, o conservador pragmático e ex-presidente Ali Hashemi Rafsanjani, por 62% contra 36%.
O fator que parece ter pesado mais para a vitória do fundamentalista foi a desilusão das classes médias urbanas -mais favoráveis às mudanças, especialmente na área dos costumes- com o processo de reformas. Esse importante contingente populacional teve um comparecimento baixo às urnas, facilitando a vitória para Ahmadinejad, que, com seu discurso anticorrupção e em favor da pureza dos ideais da Revolução Islâmica de 1979, cativou os mais pobres e a população do interior do país.
A frustração com as reformas é um fenômeno antigo, mas que se intensificou no segundo mandato de Khatami. O Majlis (Parlamento) votava e aprovava importantes mudanças que tinham o apoio do presidente. Mas os projetos eram sistematicamente barrados pelo Conselho dos Guardiães, o superpoder Judiciário, cujos membros são indicados pelo aiatolá Ali Khamenei, o líder supremo do país. Com o passar do tempo, a popularidade de Khatami foi substituída por descrença e desconfiança.
Resta saber agora que tipo de governo Ahmadinejad fará. Pela sua retórica, estará em perfeita sintonia com os religiosos ultraconservadores que estão no poder desde 1979.


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