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VITÓRIA FUNDAMENTALISTA
A vitória do ultraconservador
Mahmoud Ahmadinejad na
eleição presidencial iraniana é um
daqueles fatos que surpreendem,
mas, quando analisados "a posteriori", parecem fazer sentido. Mais do
que um triunfo do conservadorismo
religioso, o resultado do pleito marcou a derrota do projeto reformista,
cujo principal expoente, o presidente
Muhammad Khatami, deixará o cargo agora, depois de dois mandatos.
Discute-se se houve ou não fraude
nas eleições. É bastante possível que
sim. Notícias de irregularidades isoladas chegaram aos meios de comunicação. Mas não há denúncias de
falsificações maciças, necessárias
para alterar o resultado. Ahmadinejad derrotou seu rival no segundo
turno, o conservador pragmático e
ex-presidente Ali Hashemi Rafsanjani, por 62% contra 36%.
O fator que parece ter pesado mais
para a vitória do fundamentalista foi
a desilusão das classes médias urbanas -mais favoráveis às mudanças,
especialmente na área dos costumes- com o processo de reformas.
Esse importante contingente populacional teve um comparecimento
baixo às urnas, facilitando a vitória
para Ahmadinejad, que, com seu discurso anticorrupção e em favor da
pureza dos ideais da Revolução Islâmica de 1979, cativou os mais pobres
e a população do interior do país.
A frustração com as reformas é um
fenômeno antigo, mas que se intensificou no segundo mandato de Khatami. O Majlis (Parlamento) votava e
aprovava importantes mudanças que
tinham o apoio do presidente. Mas
os projetos eram sistematicamente
barrados pelo Conselho dos Guardiães, o superpoder Judiciário, cujos
membros são indicados pelo aiatolá
Ali Khamenei, o líder supremo do
país. Com o passar do tempo, a popularidade de Khatami foi substituída por descrença e desconfiança.
Resta saber agora que tipo de governo Ahmadinejad fará. Pela sua retórica, estará em perfeita sintonia
com os religiosos ultraconservadores que estão no poder desde 1979.
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