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BORIS FAUSTO
É preciso ter carisma
Em breve entrevista a esta Folha
(25/7), a atriz Patrícia Pilar, companheira de Ciro Gomes, disse algo
como "Serra não tem jeito, ele não
tem carisma", repetindo o que se afirma por todos os cantos, naturalmente
para ressaltar que Ciro tem carisma.
É verdade. Serra -vale a insistência- não tem carisma. Mas será que
essa constatação tem mesmo muita
importância para fins de governo?
Com a licença dos sociólogos, lembro
em duas linhas o conceito de carisma,
tal como definido por Max Weber. A
dominação carismática -forma peculiar de poder- baseia-se na capacidade extraordinária de um líder para
se apresentar como portador de uma
missão, ou pelo menos de um dom,
reconhecido por seus seguidores.
Nos dias de hoje, num mundo em
que as imagens se transformaram em
essência, o carisma tem uma dimensão imagética maior -o candidato
inspira ou não segurança, seus olhos
brilham ou não, seu rosto espelha, ou
não, uma variedade de sentimentos
etc. O carisma encerra qualidades e
defeitos. Se, de um lado, pode ser um
indicador de capacidade, pode ocultar, ao contrário, o vazio de idéias ou,
pior do que isso, a perversão das
idéias, como o exemplo extremo de
um Hitler demonstra.
Voltemos a Serra. A ausência de carisma vem ocultando e desvalorizando as qualidades de Serra como homem público. Aponto, rapidamente,
algumas dessas qualidades. O candidato do PSDB-PMDB tem uma longa
e coerente carreira política, assim como uma linha ética de conduta que
não sofre restrições. Não precisa embarcar -pode até ser tentado a fazê-lo- na defesa de programas "Papai
Noel" de última hora, trombeteados
por outros candidatos, que, ao longo
dos anos, caracterizaram-se pela incoerência de idéias e pelas frases de
efeito.
Exemplificando, no terreno crucial
da economia, desde o primeiro mandato do presidente Fernando Henrique, Serra defendeu pontos de vista
envolvendo temas como a maior ênfase no crescimento econômico, ou
uma política industrial mais agressiva. Tal perspectiva, que bem representa o lema de "continuidade sem
continuísmo", segue a linha da recusa
dos "milagres" envenenados que caracterizou o atual governo.
Por outro lado, é lamentável que
discussões personalistas estejam quase sepultando as realizações do candidato no Ministério da Saúde, onde revelou, como poucos -no caso dos
genéricos e do combate à Aids-,
muita coragem diante da grande indústria farmacêutica.
Afinal, politicamente, se olharmos o
conteúdo das alianças, "o quem está
com quem", o fato é que Serra é, de
longe, o candidato mais distante de
oligarcas e cidadãos de comportamento no mínimo suspeito. Basta
conferir, mesmo sem citar nomes.
É por tudo isso que a queda de Serra
nas pesquisas causa preocupação a
muita gente. E é por isso que, na minha opinião (as discordâncias são naturais), é preciso lutar para que esse
quadro possa ser alterado.
Boris Fausto escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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