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São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 2003

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EMPREGO NO TRÁFICO

Um dos aspectos mais alarmantes do avanço do narcotráfico nas grandes cidades brasileiras é o crescente recrutamento de jovens pelo crime. Segundo reportagem publicada ontem na Folha, o comércio de drogas ocupa o segundo lugar no ranking de motivos de internação na Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem), atrás apenas de roubo qualificado. Em 2000, aparecia na quinta posição.
As razões de tal escalada podem ser contempladas na trajetória de G., adolescente de 14 anos que "contratou" dois colegas de 13 e 12 para tocar um ponto de venda de drogas na periferia sul de São Paulo -extremo da cidade no qual a presença do poder público praticamente não existe.
O negócio, montado com "alvará" dos quatro principais traficantes da região, chegou a faturar R$ 600 por dia. Em três meses, G. comprou roupas caras e uma moto. Passou a ser chamado de "patrão" na vizinhança, arranjou namoradas e abandonou a escola. Preparava-se para comprar seu primeiro carro quando foi preso, em agosto de 2002.
Foi nesse ano que as internações por tráfico na Febem registraram um salto, tendência mantida nos primeiros meses de 2003. Dos 6.270 internos que a fundação abrigava em junho, 9,8% vinham do comércio de drogas. Eram 9,2% em dezembro passado.
Vai longe o tempo em que o adolescente empregado no tráfico atuava somente como "olheiro", alertando superiores para a eventual chegada da polícia. Agora armado, ele transporta e vende a droga. Invariavelmente, é o primeiro a ser preso, quando não morto.
A transformação da juventude pobre em mão-de-obra do narcotráfico é um processo que não será revertido apenas com medidas repressivas. Sem políticas de combate ao desemprego e oferta de educação e lazer, não se conseguirá afastar esses jovens do dinheiro fácil -e não raro fatal- oferecido pelo crime.


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