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EMPREGO NO TRÁFICO
Um dos aspectos mais alarmantes do avanço do narcotráfico nas grandes cidades brasileiras é
o crescente recrutamento de jovens
pelo crime. Segundo reportagem publicada ontem na Folha, o comércio
de drogas ocupa o segundo lugar no
ranking de motivos de internação na
Fundação Estadual do Bem-Estar do
Menor (Febem), atrás apenas de
roubo qualificado. Em 2000, aparecia na quinta posição.
As razões de tal escalada podem
ser contempladas na trajetória de G.,
adolescente de 14 anos que "contratou" dois colegas de 13 e 12 para tocar um ponto de venda de drogas na
periferia sul de São Paulo -extremo
da cidade no qual a presença do poder público praticamente não existe.
O negócio, montado com "alvará"
dos quatro principais traficantes da
região, chegou a faturar R$ 600 por
dia. Em três meses, G. comprou roupas caras e uma moto. Passou a ser
chamado de "patrão" na vizinhança,
arranjou namoradas e abandonou a
escola. Preparava-se para comprar
seu primeiro carro quando foi preso,
em agosto de 2002.
Foi nesse ano que as internações
por tráfico na Febem registraram
um salto, tendência mantida nos
primeiros meses de 2003. Dos 6.270
internos que a fundação abrigava
em junho, 9,8% vinham do comércio de drogas. Eram 9,2% em dezembro passado.
Vai longe o tempo em que o adolescente empregado no tráfico atuava somente como "olheiro", alertando superiores para a eventual chegada da polícia. Agora armado, ele
transporta e vende a droga. Invariavelmente, é o primeiro a ser preso,
quando não morto.
A transformação da juventude pobre em mão-de-obra do narcotráfico
é um processo que não será revertido apenas com medidas repressivas.
Sem políticas de combate ao desemprego e oferta de educação e lazer,
não se conseguirá afastar esses jovens do dinheiro fácil -e não raro
fatal- oferecido pelo crime.
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