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OTAVIO FRIAS FILHO
O anti-Bush
O pensamento "progressista"
ou de centro-esquerda nos Estados Unidos, chamado de "liberal" na
terminologia americana, sempre teve
pouca expressão política. Muito presente nos meios de comunicação, no
ambiente universitário e na indústria
do entretenimento, sua força eleitoral
se concentra em grandes centros como Chicago, Nova York e Boston.
Numa sociedade próspera e estável
como aquela, é normal que a grande
maioria do eleitorado se aglomere em
redor de posições centristas. Também
não é surpresa que haja pouca diferença entre os dois principais partidos. O Democrata, mais "liberal",
conta com uma ala sulista de direita,
assim como o Republicano tem sua
facção "progressista" no norte.
Nas duas vezes em que os democratas indicaram candidatos "progressistas" foram amplamente derrotados.
Adlai Stevenson, ícone da intelectualidade "liberal" na década de 50, perdeu
duas vezes para o general Eisenhower.
E George McGovern -expressão política da contracultura dos anos 60-
teve, contra Nixon em 72, o pior desempenho de um candidato democrata na história moderna.
Com a derrocada do bloco socialista,
em 89-91, todo o espectro da política
mundial se deslocou para a direita.
Assim como os social-democratas europeus, o Partido Democrata americano, sob a liderança de Clinton, passou a adotar uma atitude mais amistosa para com as empresas e o mundo
dos negócios. Foi mérito do ex-presidente democrata promover essa conversão sem que o partido perdesse a
aura de campeão dos despossuídos.
Foi a doutrina ultradireitista do
atual presidente Bush, posta em movimento pelos atentados de 11 de Setembro, que propiciou aos democratas levantar a bandeira da reconciliação nacional sob um presidente que corresponda ao ideal de moderação política
do país. O documentário "Fahrenheit
9/11", de Michael Moore, brilhante e
faccioso, ilustra bem o clima intelectual de revanche anti-Bush.
O candidato John Kerry, que faz hoje seu discurso de aceitação na convenção do partido em sua cidade natal, a "progressista" Boston dos Kennedys, parece escolhido para não repetir os fiascos de Stevenson e McGovern, que alienaram o centro. Tudo indica que sua principal dificuldade estará, bem ao contrário, na imagem demasiado fluida e incerta, que, em vez
de equilíbrio, pode sugerir hesitação.
Kerry lutou com distinção no Vietnã
e depois liderou um movimento de
veteranos contra a guerra. Por incrível
que pareça, votou a favor da invasão
do Iraque por Bush e, a seguir, votou
contra o pacote de ajuda econômica
ao país invadido. As pesquisas mostram equilíbrio na disputa, como é comum nos EUA. A minoria que decide
as eleições poderá optar por Bush porque Kerry, não sendo tão diferente dele, parece apenas menos determinado.
Otavio Frias Filho escreve às quintas-feiras nesta coluna.
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