São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 2002

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Oposição

MÁRIO AMATO

Li recentemente, na "Enciclopédia Britânica", sobre o vocábulo oposição, o seguinte: "Certas palavras do vocabulário e no discurso comum, usadas quase sempre em torno do discurso do sentimento humano, são empregadas sem análise". Essa manifestação está baseada em ser ou não ser. O prazer da polêmica e da contradição leva ao otimismo ou ao pessimismo, quase sempre pelo estado psicológico ou político da real situação em exame.
Considerando que tudo é falível, inicia-se a polêmica: Deus existe ou não existe? O mundo teve começo ou não? Bondade ou maldade? Prazer ou dor? Virtude ou vício? Democracia ou totalitarismo? Tudo isso se inclui nas atividades humanas, na arte, na música etc.
Como o homem é o único animal político, a política põe o mundo em constante guerra entre situação e oposição. Como tudo na vida, é mensurável, embora nem sempre axiomática, porque geralmente conduzida pela mente preparada ou despreparada, culta ou inculta, caracterizando um quadro permanente de satisfação ou insatisfação, de otimismo ou de pessimismo, que os psicólogos analisam como caráter, herança, idiossincrasia, frustração, ansiedade.
No campo pessoal, da família, que conduz os indivíduos à cidadania, independentemente da situação coletiva e que gera a guerra entre situação e oposição. Quando a oposição é uma simples tertúlia, em que se procura dar um recreio á inteligência, chega a ser agradável, porque permite meditar como é possível contestar branco e preto, mole e duro, usando as mesmas palavras para sentidos diferentes.
Todas essas nuances são irrelevantes quando não são utilizadas para condenar outras, cuja execução se faz pelo que se pode, e não pelo que se quer. No jogo político nos encontramos nessa situação, pessoas que se aproveitam usando inteligência e conhecimento, estando em foco, hoje, os economistas, que se encarregam de condenar o que se realizou, embora as realizações tenham trazido melhoras.
Os pessimistas, os contestadores não sabem -ou sabem e agem de maneira politicamente incorreta-, desconhecendo o mal que causam ao nosso país. O mundo dos negócios e a moeda dirigem todos os campos de atividade, e o povo, com precária educação, torna-se presa fácil, daí a incerteza do amanhã, que faz com que o condutor ou os condutores da nação fiquem à mercê de críticas, obrigando-os a se distraírem do que é fundamental para o país. Os contestadores fazem promessas irrealizáveis, mas a mentira, por força de repetição, adquire foros de verdade.


Temos uma democracia que não deixa nenhuma possibilidade de passarmos a um sistema ditatorial


O mundo hoje é argentário, vive-se na ânsia de uma vida melhor, o que se consegue quando se dispõe de recursos financeiros. O Brasil tem evoluído, malgrado a corrupção e a falta de moral e de ética. Quase todas as obras são utilizadas pelos que gostam de levar vantagem em tudo, o mesmo acontece com a merenda escolar, com a saúde, com casas populares, verbas para importação e exportação, projetos não-desenvolvimentistas idealizados para arrecadar dinheiro, sonegação de impostos, propinas no setor público e na Justiça. É possível continuar permitindo que isso ocorra?
Há, graças a Deus, uma legião de voluntários, humanistas, patriotas, empresas, idealistas, políticos, religiosos, gente humilde do povo, estadistas unindo-se para reduzir as diferenças sociais, em campanhas cujos resultados começam a explodir, razão por que não há como não acreditar no futuro. Claro, temos que batalhar, escolher bem nossos políticos, a começar pelo presidente da República. Na campanha eleitoral, vamos friamente escolher os melhores, vença quem vencer. Nada de ensarilhar as armas precocemente, porque no campo político tudo é transitório, menos a pátria.
Na economia, estamos entre as dez principais nações, apesar de uma distribuição de renda perversa; mas continuamos melhorando nesses últimos oito anos. Se soubermos escolher bem os nossos dirigentes na próxima eleição, elegendo pessoas competentes, trabalhadoras, honradas, venceremos mais uma etapa. Não será a curto prazo, mas com a Lei de Responsabilidade Fiscal, com o combate à sonegação por meio de uma reforma fiscal, nada segurará o nosso país. Há violência no país? Sim, há, mas a violência está presente em todo o mundo e, à medida que forem corrigidas distorções na área econômica e da produção, ela diminuirá, com tendência a acabar.
Nossa agricultura, pela primeira vez, passará os 100 milhões de toneladas de grãos. A agroindústria tem já tecnologia para avançar ainda mais, basta ver os programas da Embrapa, aperfeiçoando cada vez mais os produtos agrícolas. Somos os maiores do mundo na indústria de celulose e conseguimos, praticamente, fazer com que o eucalipto seja o carro-chefe dessa indústria. Precisamos agora, a exemplo de outros países, subsidiar a exportação, mesmo que seja a fundo perdido, e temos, também, o maior rebanho bovino, que nos permite exportar carne para combater a fome local e do mundo.
O comércio interno precisa ser aliviado da extorsiva taxação, que leva à sonegação, mas há competência para as vendas nos mercados interno e externo, não sendo possível mudar as regras e a estabilidade. A indústria prospera, as grandes empresas nacionais demonstram sua capacidade de produção.
Temos tudo para crescer, é só termos governantes competentes, honestos e patriotas. Politicamente, temos uma democracia que se consolida e que não deixa nenhuma possibilidade de passarmos a um sistema ditatorial. Logo é saber escolher bem na próxima eleição e, seja qual for o eleito, cooperar, ajudar, pensando no Brasil.
Com todas essas qualidades, não nos podemos deixar encantar por promessas irreais nem por slogans como "rouba, mas faz", pois o custo disso é muito alto e permite a ação dos oportunistas. As eleições aí estão, vamos escolher conscientemente, usando a razão, e não a paixão. Precisamos de competência, de equipe e de uma oposição que olhe o horizonte brasileiro, e não interesse pessoais ou de grupos.
Temos de mobilizar toda a sociedade para que não se preocupe com a dialética oposicionista e olhe para o Brasil.


Mário Amato, 83, empresário, é presidente emérito da Fiesp, presidente do Conselho de Orientação Política e Social da Fiesp e do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Comércio Exterior. Foi presidente da CNI.



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