São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES As anacrônicas instituições internacionais
GILBERTO DUPAS
O "Wall Street Journal" lembrou que a maioria das empresas privatizadas está em dificuldades, os investidores estão pulando fora e os "consumidores, sentindo-se enganados, cada vez mais associam privatização com tarifas mais altas", provocando protestos violentos. Mesmo o setor de telecomunicações, considerado a jóia da coroa, está claudicando devido à queda da renda da população. Depois de todo esse leite derramado, o jornal comenta que a diretoria do BM prefere agora a tese de que não importa mais ser o controle privado ou estatal, o que interessa é que ele seja eficiente". "Tudo depende de quão politicamente aceitáveis são as tarifas", faz coro o presidente do IFC, agência do BM que financia o setor privado, com o ar "blasé" de quem anuncia o descobrimento da pólvora no século 21. Já a OMC finalmente reconhece, pela primeira vez, em documento oficial, que a abertura econômica pode ter efeitos negativos nos países em desenvolvimento, inclusive agravando as desigualdades sociais. As evidências estão aí desde 1998 e por muitos foram apontadas -no meu caso, já o fiz na primeira edição de "Economia Global e Exclusão Social". Em meio a esse rápido mea culpa, apressa-se o órgão internacional a lembrar, no entanto, os sucessos da China e da Malásia, esquecendo que esses casos são totalmente atípicos. A China, por dezenas de razões, inclusive porque parte do seu sucesso ocorreu em razão da implantação de medidas condenadas pela OMC. A Malásia porque, como a China, conseguiu exportar produtos de alto valor adicionado. Mas, persistindo em não dar o braço a torcer, o relatório corre a afirmar que, apesar dos inúmeros fracassos, não há dúvida de que "economias mais abertas tendem a ter maior controle sobre a corrupção". Finalmente o FMI -após ter que enfrentar críticas ácidas, acusado de agravar a crise asiática dos anos 90 com suas recomendações ultra-ortodoxas e abandonar a Argentina à sua própria sorte, em meio a um inferno decorrente de medidas adotadas que foram então elogiadas pela própria instituição- tem que aguentar um neoconvertido Joseph Stiglitz, cada vez mais rebelde. Muito envolvido com a formulação inicial dessas políticas, como vice-presidente do Banco Mundial por vários anos, ele as acusou de gerar "uma paz de cemitério" após descobrir seus efeitos perversos. Agora, para desconforto do governo Lula, declara que vê com bons olhos a política atual da Argentina, de conflito com o FMI, insinuando que o Brasil deve considerar alternativas quando da renovação do acordo ora vigente. Esses são sintomas de uma complexa crise institucional. Ela se agrava pelo momento de perplexidade mundial diante das atitudes unilaterais norte-americanas, de exercício de seu poder global, que ferem fundo os conceitos de hegemonia e governabilidade global, já que exercitam a imposição, e não a busca, do consenso. Gilberto Dupas, 60, economista, é coordenador-geral do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da USP, presidente do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais e autor de "Tensões Contemporâneas entre o Público e o Privado" (Paz e Terra), entre outras obras. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Maria Aparecida Perez: Escola é aluno, professor e comunidade Índice |
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