UOL




São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TENDÊNCIAS/DEBATES

Escola é aluno, professor e comunidade

MARIA APARECIDA PEREZ

Em artigo publicado nesta página, em 20 de agosto, o professor Mauro de Salles Aguiar, diretor do Colégio Bandeirantes e membro do Conselho Estadual de Educação, tenta criticar o projeto educacional da Prefeitura de São Paulo, em particular os CEUs (Centros Educacionais Unificados).
O Projeto CEU está implantando na Cidade de São Paulo, neste ano, 21 centros compostos de creche, escola de educação infantil, escola de ensino fundamental, teatro e oficinas culturais, piscinas e quadras, telecentros e bibliotecas. Vão atender 2.400 crianças nas suas escolas e atuar em rede com as outras escolas municipais da sua região. Entre os seus objetivos está trazer para dentro da escola a comunidade do seu entorno, não apenas como usuária, mas como gestora. Comunidades que, é bom ressaltar, estão vivendo nas regiões de maior exclusão social da cidade e que nunca receberam do poder público mais atenção. São bairros do extremo da nossa periferia, onde não existem opções de lazer, esporte e muito menos de cultura. São os bairros onde se concentram a maior parte dos desempregados da nossa cidade, especialmente a juventude, que, muitas vezes, acaba sendo a mão-de-obra do narcotráfico.
Para essas comunidades, até este governo, o poder público só havia oferecido escolas com "instalações paupérrimas", como se refere o professor às escolas de Cuba. Ou podemos classificar de forma diferente as famosas escolas de latinha?
A opção pelos CEUs é a de dar a essa população esquecida equipamentos com a qualidade daqueles de que gozam as classes mais favorecidas e privilegiadas de São Paulo. Os CEUs estão dentro de uma política de combate à exclusão de que também fazem parte projetos como o Renda Mínima, Bolsa Trabalho e o Programa Vai e Volta -uniformes, material escolar e transporte gratuito para quem mora longe da escola.



Nossa gestão tem investido fortemente na formação e valorização permanente dos nossos educadores

Não podemos deixar de considerar, também, que cultura e esporte são partes integrantes do capital cultural de nossa sociedade e que estão disponíveis apenas para as classes favorecidas. Nossas crianças e jovens merecem, portanto, a oportunidade de romper o ciclo da pobreza estrutural. Um prédio bonito, arejado, com equipamentos e livros, material pedagógico, espaços adequados às atividades propostas todos nós merecemos. Não é um clube nem um centro cultural, nem são escolas a mais. É um conjunto onde as ações são articuladas em atividades planejadas. É o ensino público de qualidade que ajuda a transformar a realidade de locais que precisam ser desenvolvidos, com o envolvimento da própria comunidade em sua preservação e potencialidade.
Os CEUs são a tradução de um projeto pedagógico avançado. Mas a base da crítica de Mauro Salles é uma suposta falta de valorização do professor pelo poder público, ao mesmo tempo em que não haveria cobrança sobre sua atuação. Muito ao contrário, nossa gestão tem investido fortemente na formação e valorização permanente dos nossos educadores. Temos oferecido da habilitação inicial (curso normal superior e curso médio de magistério) aos programas de formação específica, como o Programa de Formação de Professores Alfabetizadores, ABC na Educação Científica - Mão na Massa, Vivências Culturais, Círculos de Leituras, entre outros. Programas que atendem diretamente mais de 14 mil educadores.
Temos também valorizado, dentro das nossas restrições orçamentárias, os professores e os demais profissionais da educação. Foi instituída a Gratificação de Desenvolvimento Educacional, que premia todos os funcionários das escolas -do servente ao diretor-, conforme o desempenho coletivo de cada escola. Além disso, mantivemos a gratificação por distância para aqueles professores que lecionam nos bairros mais afastados da cidade.
Por outro lado, algumas questões levantadas pelo professor não dependem apenas do Executivo municipal. As aposentadorias obedecem à legislação federal e as "limitações corporativas de jornadas de trabalho" e o ""direito" do professor a um determinado número de faltas" são conquistas dessa categoria que exigem para sua modificação uma ampla negociação coletiva, além de aprovação da Câmara Municipal.
Por fim, o prof. Mauro afirma que nossos jovens precisam "antes de mais nada, de muita atenção, amor, carinho e relação afetiva". O que é isso, se não o poder público oferecer um local onde nossas crianças possam ter acesso à informação, à cultura, ao esporte? Um local onde possam conviver com a sua comunidade, seus pais, seus amigos? Onde os professores sintam também que estão sendo valorizados por um ambiente de trabalho renovado e moderno e tenham satisfação em participar de um novo projeto? Uma escola que envolva as antigas escolas na sua rede e expanda sua influência para todo o bairro?
Falta de carinho seria manter o menino pobre da periferia numa escola em que seu horizonte continuasse a ser o de um subalterno na sociedade. Sempre submetido aos que, por conta da condição de seus pais, pudessem estudar nas melhores escolas e acessar o conhecimento das melhores universidades.

Maria Aparecida Perez, 47, socióloga, é secretária municipal de Educação de São Paulo.


Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES
Gilberto Dupas: As anacrônicas instituições internacionais

Próximo Texto: Painel do leitor
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.