São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2004

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PLÍNIO FRAGA

Esquina da Ipiranga com a Ouvidor

RIO DE JANEIRO - A rua do Ouvidor é o lugar mais seguro para saber notícias, escreveu Machado de Assis. Cruza o centro do Rio e hoje guarda discretamente o charme oitocentista. Talvez não continue a ser a sociedade em ponto pequeno, onde se deve ouvir sem moralizar.
Nestes dias, pela rua do Ouvidor, vê-se com um certo enfado a eleição municipal do Rio. O prefeito Cesar Maia (PFL) lidera com folgada margem, conforme as pesquisas. Surgido na política como expoente técnico da esquerda brizolista, Maia caminha para seu terceiro mandato na Prefeitura do Rio como emergente pirotécnico da direita pefelista.
Na era da barafunda das ideologias, Maia capta apoios amplos no Rio em nome de suas obras. Suas idéias estão fora do lugar ou, ao menos, do debate. Acalenta ser vice de Geraldo Alckmin em 2006, em rearranjo tucano-liberal que tentaria devolver Lula a São Bernardo.
O prefeito lidera no Rio nem tanto por seus méritos. O bom e o ruim são sempre relativos, e o carioca se pergunta: comparados com o quê?
O segundo candidato mais forte, Marcelo Crivella (PL), tem como programa não ter programa. "Você, eleitor, me dirá o que tenho de fazer", repete na TV. Política e pessoalmente, Crivella vive das burras -caixa de valores, aqui morais e financeiros, para ser claro- da Igreja Universal.
Luiz Paulo Conde (PMDB) está encalhado na baixa popularidade na capital de Garotinho e Rosinha Matheus, esconjurados por seu caipirismo político. Jandira Feghali (PC do B) levará o voto da esquerda festiva da zona sul, mas seu partido esteve no poder no Estado e lá fez laboratório do aparelhismo esquerdista.
O anticarismático, como ele próprio se definiu, Jorge Bittar (PT) tem a melhor campanha eleitoral na televisão, sob comando de Nizan Guanaes. Centra suas maiores esperanças em projetos lançados por Marta Suplicy, como o bilhete único e o CEU (Centro Educacional Unificado).
Mas será que tem chances de ser eleito prefeito do Rio alguém que promete transformar a cidade numa espécie de São Paulo? Só quando cruzar a Ipiranga com a rua do Ouvidor.


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