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Dom Luciano
"Nos anos 80, em uma viagem de
avião, sentei-me ao lado de um padre. Conversamos um pouco sobre
a vida e a vida indígena, na qual os
valores espirituais são sagrados e
permanentes no relacionamento
com o Grande Criador. Ele falou sobre os valores indígenas e sobre os
possíveis erros do passado. Para
mim, ali estava um padre diferente,
que sabia falar das coisas sem dar
sermão ou puxão de orelha. Ao desembarcarmos, ele me disse: "Meu
nome é dom Luciano, apareça na
CNBB!".
A partir daquele momento, estimulado pela luta indígena, sempre
que era necessário lá ia eu à CNBB
para conversar com ele para que interviesse pelo menos no Ministério
do Interior pelos nossos direitos como povos e, principalmente, como
estudantes prestes a serem expulsos por orientação do general Golbery e do presidente da Funai, coronel João Carlos Nobre da Veiga.
Naquele tempo, dom Luciano era
o secretário-geral da CNBB e, com
seu apoio, começamos a campanha
pela demarcação das terras -seja
com os xavantes, seja com os apinajés- e, ao mesmo tempo, pelos direitos humanos -como o direito de
estudarmos em Brasília e o direito
de nos organizarmos com a União
das Nações Indígenas.
Dom Luciano nunca deixou de
lutar por esses direitos e, certamente, nunca falhou nesse compromisso, seja perante nós, os povos indígenas, seja perante o Grande Criador, que agora o chamou para o
campo eterno.
A CNBB, aliada de sempre, conselheira suprema na defesa dos direitos humanos, sabe que um guerreiro sai de cena, mas deixa sua semente marcante e exemplar para os
novos guerreiros. Dom Luciano jamais esmoreceu. Jamais se afastou
de sua paróquia e de seus ideais.
Como filho dos povos indígenas,
levanto minha prece ao Grande Ituco-Oviti para que seu espírito usufrua do galardão como merecimento por seu trabalho como missionário, mas, principalmente, como um
guerreiro de batina."
MARCOS TERENA, índio da nação xané,
coordenador da Viatan -Central de Informações
Indígenas- e membro da Comissão de Justiça e
Paz da CNBB (Brasília, DF)
"Dom Luciano Mendes de Almeida foi o sacerdote exemplar. Não só
pelo exercício cotidiano da caridade
no socorro aos pobres e às crianças
e no apoio aos doentes como por ter
sido a demonstração viva de como
um religioso pode bater-se pelas reformas sociais sem ser arrastado
para as posições extremadas dos
padres "progressistas".
O verdadeiro perfil de dom Luciano foi traçado com muita felicidade no artigo de Augustin Wernet
de ontem: "Neste nosso mundo secularizado, viveu uma religiosidade
de cunho bíblico e evangélico"."
GILBERTO DE MELO KUJAWSKI (São Paulo, SP)
"Lamentamos muito a morte de
dom Luciano Mendes de Almeida.
Os setores excluídos perderam
um grande e comprometido parceiro. Dom Luciano lutou pela justiça
e inspirou a geração da "opção pelos
pobres".
Nestes tempos de fundamentalismo, ele fará muita falta com sua
marca de coragem e respeito aos
movimentos sociais.
A ele, queremos render nossas
homenagens."
MARIA JOSÉ ROSADO NUNES, coordenadora do
grupo Católicas pelo Direito de Decidir
(São Paulo, SP)
MuBE
"Foi com tristeza que a diretoria
do Museu Brasileiro da Escultura
leu a reportagem "Prefeitura vai à
Justiça para retomar área do MuBE" (Cotidiano, pág. C7, 26/8).
Trabalho no MuBE desde 1990,
quando a construção estava em
processo e quando, com Marilisa
Rathsam, percorria as empresas
para captar recursos que viabilizassem o término da obra.
Entre o final da vigência da Lei
Sarney e a promulgação da Lei
Rouanet, não era possível obter recursos financeiros. A obra estava
paralisada, e a manutenção da parte construída só foi possível graças
aos recursos mensais que a generosidade do saudoso José Ermírio de
Morais Filho e do senador Pedro
Piva nos garantia.
A atual presidente arcava com
parte das despesas, e corríamos o
risco de perder a propriedade que
se tinha por 99 anos do terreno desapropriado por Jânio Quadros, fato evitado pelo decreto da prefeita
Luiza Erundina que ampliou o prazo para a finalização da obra.
A Câmara dos Vereadores aprovou a lei do prefeito Paulo Maluf, e
os recursos advindos permitiram
levar a bom termo, em 1995, o esplêndido monumento, projetado
por Paulo Mendes da Rocha.
Não temos poder nem queremos
interferir nas ações prometidas pelos secretários Andrea Matarazzo e
Carlos Augusto Calil, mas esperamos receber uma visita e, em termos cordiais, demonstrar-lhes que
não praticamos atividades comerciais e que os eventos para a demonstração de diversos produtos
deixam para o MuBE uma doação
pecuniária pela cessão do espaço. A
feira de antiguidades opera dentro
de mesmo sistema.
A contrapartida para a prefeitura
é oferecida pela Sociedade Amigos
dos Museus através de um número
de bolsas para alunos indicados pelos órgãos do governo municipal
para todos os cursos práticos e teóricos que aqui são ministrados.
A atividade cultural é intensa,
diária e contínua, nunca perturbada pelos eventos, que apenas retornam parcialmente a verba necessária para o pagamento de contas e
dos salários dos abnegados funcionários, que quase sempre recebem
com atraso.
O senhor secretário da Cultura
notabilizou-se por dar um relevo
sem precedentes ao Centro Cultural São Paulo, e o ex-prefeito José
Serra conquistou a nossa simpatia
quando da visita com que nos hon-
rou durante a campanha para a prefeitura. Sabemos que pessoas com
tal nível e entendimento cultural,
antes de tomar uma atitude que
condenará ao desaparecimento
uma instituição que valoriza São
Paulo e o Brasil, atentarão para o
número de concertos, de congressos e de exposições de artes plásticas e de fotografia, entre outras."
SUZANNA SAMPAIO, professora de história e
advogada, vice-presidente do MuBE, conselheira
do Iphan, membro da Academia Nacional de Belas
Artes de Lisboa e presidente de honra do
Icomos/Brasil (São Paulo, SP)
Fórum Mundial
"Na edição de 27/8, a reportagem
"ONG que lançou o Fórum Social vive divisão e crise" (Mundo, pág.
A23) se referiu à associação francesa Attac.
Gostaria de esclarecer que o Fórum Social Mundial foi uma iniciativa brasileira que articulou uma
rede de entidades nacionais e internacionais, entre elas a Attac, para
fazer o lançamento internacional,
em junho de 2000, em Genebra, e
formou um comitê organizador
brasileiro, que realizou o primeiro
evento em janeiro de 2001, em Porto Alegre."
ODED GRAJEW, membro do Conselho
Internacional do Fórum Social Mundial
(São Paulo, SP)
Iguais diferentes
"Lula gosta, às vezes, de se comparar com o ex-presidente JK. Talvez seja pelo grande desenvolvimento implementado no país na
década de 50 por JK.
Mas não era possível encontrar
nada que justificasse tal comparação até o surgimento da atual crise
na Volkswagen. Agora já é: JK inaugurou essa grandiosa empresa; Lula
a está fechando."
LUIZ ANTONIO PRATALI (Santos, SP)
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