São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 2006

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PAINEL DO LEITOR

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Dom Luciano
"Nos anos 80, em uma viagem de avião, sentei-me ao lado de um padre. Conversamos um pouco sobre a vida e a vida indígena, na qual os valores espirituais são sagrados e permanentes no relacionamento com o Grande Criador. Ele falou sobre os valores indígenas e sobre os possíveis erros do passado. Para mim, ali estava um padre diferente, que sabia falar das coisas sem dar sermão ou puxão de orelha. Ao desembarcarmos, ele me disse: "Meu nome é dom Luciano, apareça na CNBB!".
A partir daquele momento, estimulado pela luta indígena, sempre que era necessário lá ia eu à CNBB para conversar com ele para que interviesse pelo menos no Ministério do Interior pelos nossos direitos como povos e, principalmente, como estudantes prestes a serem expulsos por orientação do general Golbery e do presidente da Funai, coronel João Carlos Nobre da Veiga. Naquele tempo, dom Luciano era o secretário-geral da CNBB e, com seu apoio, começamos a campanha pela demarcação das terras -seja com os xavantes, seja com os apinajés- e, ao mesmo tempo, pelos direitos humanos -como o direito de estudarmos em Brasília e o direito de nos organizarmos com a União das Nações Indígenas.
Dom Luciano nunca deixou de lutar por esses direitos e, certamente, nunca falhou nesse compromisso, seja perante nós, os povos indígenas, seja perante o Grande Criador, que agora o chamou para o campo eterno. A CNBB, aliada de sempre, conselheira suprema na defesa dos direitos humanos, sabe que um guerreiro sai de cena, mas deixa sua semente marcante e exemplar para os novos guerreiros. Dom Luciano jamais esmoreceu. Jamais se afastou de sua paróquia e de seus ideais. Como filho dos povos indígenas, levanto minha prece ao Grande Ituco-Oviti para que seu espírito usufrua do galardão como merecimento por seu trabalho como missionário, mas, principalmente, como um guerreiro de batina."
MARCOS TERENA, índio da nação xané, coordenador da Viatan -Central de Informações Indígenas- e membro da Comissão de Justiça e Paz da CNBB (Brasília, DF)

"Dom Luciano Mendes de Almeida foi o sacerdote exemplar. Não só pelo exercício cotidiano da caridade no socorro aos pobres e às crianças e no apoio aos doentes como por ter sido a demonstração viva de como um religioso pode bater-se pelas reformas sociais sem ser arrastado para as posições extremadas dos padres "progressistas". O verdadeiro perfil de dom Luciano foi traçado com muita felicidade no artigo de Augustin Wernet de ontem: "Neste nosso mundo secularizado, viveu uma religiosidade de cunho bíblico e evangélico"."
GILBERTO DE MELO KUJAWSKI (São Paulo, SP)

"Lamentamos muito a morte de dom Luciano Mendes de Almeida. Os setores excluídos perderam um grande e comprometido parceiro. Dom Luciano lutou pela justiça e inspirou a geração da "opção pelos pobres".
Nestes tempos de fundamentalismo, ele fará muita falta com sua marca de coragem e respeito aos movimentos sociais. A ele, queremos render nossas homenagens."
MARIA JOSÉ ROSADO NUNES, coordenadora do grupo Católicas pelo Direito de Decidir (São Paulo, SP)

MuBE
"Foi com tristeza que a diretoria do Museu Brasileiro da Escultura leu a reportagem "Prefeitura vai à Justiça para retomar área do MuBE" (Cotidiano, pág. C7, 26/8). Trabalho no MuBE desde 1990, quando a construção estava em processo e quando, com Marilisa Rathsam, percorria as empresas para captar recursos que viabilizassem o término da obra.
Entre o final da vigência da Lei Sarney e a promulgação da Lei Rouanet, não era possível obter recursos financeiros. A obra estava paralisada, e a manutenção da parte construída só foi possível graças aos recursos mensais que a generosidade do saudoso José Ermírio de Morais Filho e do senador Pedro Piva nos garantia.
A atual presidente arcava com parte das despesas, e corríamos o risco de perder a propriedade que se tinha por 99 anos do terreno desapropriado por Jânio Quadros, fato evitado pelo decreto da prefeita Luiza Erundina que ampliou o prazo para a finalização da obra. A Câmara dos Vereadores aprovou a lei do prefeito Paulo Maluf, e os recursos advindos permitiram levar a bom termo, em 1995, o esplêndido monumento, projetado por Paulo Mendes da Rocha. Não temos poder nem queremos interferir nas ações prometidas pelos secretários Andrea Matarazzo e Carlos Augusto Calil, mas esperamos receber uma visita e, em termos cordiais, demonstrar-lhes que não praticamos atividades comerciais e que os eventos para a demonstração de diversos produtos deixam para o MuBE uma doação pecuniária pela cessão do espaço. A feira de antiguidades opera dentro de mesmo sistema.
A contrapartida para a prefeitura é oferecida pela Sociedade Amigos dos Museus através de um número de bolsas para alunos indicados pelos órgãos do governo municipal para todos os cursos práticos e teóricos que aqui são ministrados. A atividade cultural é intensa, diária e contínua, nunca perturbada pelos eventos, que apenas retornam parcialmente a verba necessária para o pagamento de contas e dos salários dos abnegados funcionários, que quase sempre recebem com atraso.
O senhor secretário da Cultura notabilizou-se por dar um relevo sem precedentes ao Centro Cultural São Paulo, e o ex-prefeito José Serra conquistou a nossa simpatia quando da visita com que nos hon- rou durante a campanha para a prefeitura. Sabemos que pessoas com tal nível e entendimento cultural, antes de tomar uma atitude que condenará ao desaparecimento uma instituição que valoriza São Paulo e o Brasil, atentarão para o número de concertos, de congressos e de exposições de artes plásticas e de fotografia, entre outras."
SUZANNA SAMPAIO, professora de história e advogada, vice-presidente do MuBE, conselheira do Iphan, membro da Academia Nacional de Belas Artes de Lisboa e presidente de honra do Icomos/Brasil (São Paulo, SP)

Fórum Mundial
"Na edição de 27/8, a reportagem "ONG que lançou o Fórum Social vive divisão e crise" (Mundo, pág. A23) se referiu à associação francesa Attac. Gostaria de esclarecer que o Fórum Social Mundial foi uma iniciativa brasileira que articulou uma rede de entidades nacionais e internacionais, entre elas a Attac, para fazer o lançamento internacional, em junho de 2000, em Genebra, e formou um comitê organizador brasileiro, que realizou o primeiro evento em janeiro de 2001, em Porto Alegre."
ODED GRAJEW, membro do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial (São Paulo, SP)

Iguais diferentes
"Lula gosta, às vezes, de se comparar com o ex-presidente JK. Talvez seja pelo grande desenvolvimento implementado no país na década de 50 por JK. Mas não era possível encontrar nada que justificasse tal comparação até o surgimento da atual crise na Volkswagen. Agora já é: JK inaugurou essa grandiosa empresa; Lula a está fechando." LUIZ ANTONIO PRATALI (Santos, SP)


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