|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Ricos pedem imposto
Não é todo dia que alguém pede
ao governo um aumento de seus
próprios impostos. Foi o que aconteceu, contudo, no começo da semana passada, na França. Escusado dizer que o presidente Sarkozy
atendeu de pronto ao pedido.
Um grupo de 16 megamilionários franceses publicou na revista
"Le Nouvel Observateur" seu apelo por maior taxação. Entre os signatários estavam magnatas do petróleo, da publicidade, dos cosméticos e do champanhe.
Seguiam, na verdade, o exemplo do bilionário americano Warren Buffett, que pouco antes manifestava desconforto por pagar,
relativamente, menos impostos
(17%) que a média de seus funcionários (36%).
Nos EUA, assim como na Europa, o estado das finanças públicas
inspira preocupação. A resposta
clássica ao problema vai na direção de maior corte nos gastos, o
que de modo geral está correto.
Mas a estratégia costuma incidir
preferencialmente sobre os chamados gastos sociais.
É o que a maioria dos governantes, com alguma santimônia, chama de "sacrifícios", a serem "partilhados por todos".
Em um artigo, Buffett observou
que sua própria "cota de sacrifícios" era baixa demais. Do outro
lado do Atlântico, os multimilionários franceses ecoaram o argumento. "Na França, uma medida
tem de ser considerada justa para
ser aceita." Um imposto sobre os
mais ricos "fará com que todo o
pacote pareça mais justo".
"Pareça"? A palavra não é casual. Por mais altos que sejam os
rendimentos dos super-ricos, o reduzido número dos que pertencem a essa faixa social tende a tornar pequeno o impacto de sua
contribuição sobre o conjunto das
finanças públicas.
A iniciativa não deixa de ter, especialmente nos EUA, expressiva
influência no debate ideológico.
No Congresso, o Partido Republicano combateu o pacote proposto
pelo presidente Obama para reequilibrar as contas do governo.
O país esteve a ponto de suspender pagamentos, tal a oposição dos republicanos ao fim da redução de impostos para os ricos. A
demagógica demonização das
propostas de Obama sofre agora
um contragolpe.
Um bilionário enfraquece, assim, a retórica conservadora: para
quem, nos Estados Unidos, esperava "mudanças", eis aí uma mudança surpreendente.
Texto Anterior: Editoriais: Concessão indefinida Próximo Texto: São Paulo - Vinicius Mota: A miséria da sociologia Índice | Comunicar Erros
|