São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 2011

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Editoriais

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Ricos pedem imposto

Não é todo dia que alguém pede ao governo um aumento de seus próprios impostos. Foi o que aconteceu, contudo, no começo da semana passada, na França. Escusado dizer que o presidente Sarkozy atendeu de pronto ao pedido.
Um grupo de 16 megamilionários franceses publicou na revista "Le Nouvel Observateur" seu apelo por maior taxação. Entre os signatários estavam magnatas do petróleo, da publicidade, dos cosméticos e do champanhe.
Seguiam, na verdade, o exemplo do bilionário americano Warren Buffett, que pouco antes manifestava desconforto por pagar, relativamente, menos impostos (17%) que a média de seus funcionários (36%).
Nos EUA, assim como na Europa, o estado das finanças públicas inspira preocupação. A resposta clássica ao problema vai na direção de maior corte nos gastos, o que de modo geral está correto. Mas a estratégia costuma incidir preferencialmente sobre os chamados gastos sociais.
É o que a maioria dos governantes, com alguma santimônia, chama de "sacrifícios", a serem "partilhados por todos".
Em um artigo, Buffett observou que sua própria "cota de sacrifícios" era baixa demais. Do outro lado do Atlântico, os multimilionários franceses ecoaram o argumento. "Na França, uma medida tem de ser considerada justa para ser aceita." Um imposto sobre os mais ricos "fará com que todo o pacote pareça mais justo".
"Pareça"? A palavra não é casual. Por mais altos que sejam os rendimentos dos super-ricos, o reduzido número dos que pertencem a essa faixa social tende a tornar pequeno o impacto de sua contribuição sobre o conjunto das finanças públicas.
A iniciativa não deixa de ter, especialmente nos EUA, expressiva influência no debate ideológico. No Congresso, o Partido Republicano combateu o pacote proposto pelo presidente Obama para reequilibrar as contas do governo.
O país esteve a ponto de suspender pagamentos, tal a oposição dos republicanos ao fim da redução de impostos para os ricos. A demagógica demonização das propostas de Obama sofre agora um contragolpe.
Um bilionário enfraquece, assim, a retórica conservadora: para quem, nos Estados Unidos, esperava "mudanças", eis aí uma mudança surpreendente.


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