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CLÓVIS ROSSI
Pede para sair, Zelaya
SÃO PAULO - Se eu fosse do governo brasileiro, chamaria o capitão
Nascimento, o personagem desse
excelente ator que é Wagner Moura
em "Tropa de Elite", para dizer "pede para sair, Zelaya". É a única solução para acabar com o esculacho na missão em Tegucigalpa.
Tudo bem condenar o golpe contra Manuel Zelaya em Honduras.
Tudo bem também com a concessão pela embaixada brasileira de
abrigo, hospedagem ou como se
queira chamar, ao presidente vítima de um golpe mal disfarçado em
ato constitucional.
Mas é demais deixar que o hóspede vire dono da casa, como está demonstrado nos textos desse brilhante repórter chamado Fabiano
Maisonnave. Pior ainda é deixar
que Zelaya faça, de território brasileiro, convocações para a resistência, o que não viola apenas as normas que caracterizam o asilo (pode
não ser tecnicamente asilo o status
de Zelaya, mas equivale a ele e o seu
comportamento, por extensão,
também tem que ser equivalente).
Viola acima de tudo a obrigação
de qualquer líder político decente
de proteger os seus. É covarde e indecente convocar manifestações
refugiado na embaixada brasileira,
sabendo que quem ouvir o chamado corre risco até de vida.
Um líder político decente tampouco se cerca de ladrões -de celulares e até de toalhas-, como os que
se "hospedaram" na embaixada.
Aliás, gente decente não constrange
os anfitriões levando uma penca de
"convidados" para a casa que lhe
abriu as portas.
Zelaya continua sendo o presidente legítimo de Honduras, até
porque não consta que a Constituição hondurenha -ou qualquer outra- inclua decência entre as qualidades para ser presidente.
Mas fica a cada dia mais claro que
não há no drama hondurenho, agora transformado em ópera-bufa,
um só personagem que pessoas decentes gostariam de convidar para o
aniversário dos filhos.
crossi@uol.com.br
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