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CARLOS HEITOR CONY
A embaixada e a calçada
RIO DE JANEIRO - Até que ponto
o Brasil, em nome da democracia,
se meteu num problema interno de
país soberano como Honduras? Há
reclamações gerais e merecidas
quando os Estados Unidos, em nome da mesma democracia, invadem
países soberanos como o Iraque. O
fim justifica o meio?
Bem verdade que o Brasil não
pensa em invadir nenhum país, limitou-se a dar asilo em sua embaixada a um político local que havia
sido derrubado da Presidência por
um golpe de Estado. Até aí, tudo
bem. Acontece que, além do asilo, o
Brasil pretende reinstalar Zelaya
no poder, e isso pode parecer aos
hondurenhos uma intromissão na
soberania daquela nação.
A embaixada brasileira em Tegucigalpa é território do Brasil, mas a
calçada em que fica a embaixada é
hondurenha, a menos que o Brasil
decida ir à guerra para colocar Zelaya no poder. Que houve golpe de Estado em Honduras, houve. É motivo bastante para outro país querer
consertar as coisas?
Zelaya é acusado de tentar violentar a normalidade democrática,
criando um conflito interno que os
hondurenhos resolveram de forma
golpista -mas daí a justificar a intromissão de estrangeiros em sua
política interna vai uma distância. A
condição de asilado que Zelaya desfruta na embaixada brasileira é prejudicada pela pregação do ex-presidente, que continua sua luta para
recuperar o mandato que lhe foi
realmente roubado.
A primeira obrigação de um asilado é manter um silêncio obsequioso
em relação ao país que o abriga, deixando que a situação interna se resolva soberanamente, com seus
partidários indo à luta para a volta
da normalidade democrática. Tivemos no Brasil a experiência dos exilados que passaram anos à espera
de que, aqui dentro, a sociedade
brasileira decidisse pelo retorno da
democracia.
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