São Paulo, terça-feira, 29 de setembro de 2009

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MARCOS NOBRE

Partidos de massa

A ALEMANHA é um caso clássico no estudo de partidos de massa. Partidos que nasceram juntamente com a democracia de massas produzida na virada do século 19 para o 20. Tinham raízes sociais no movimento operário ou em movimentos de inspiração religiosa. Pretendiam representar grupos específicos, porém majoritários na sociedade.
A primeira grande mudança veio com o fim da Segunda Guerra Mundial. Na Alemanha Ocidental, um sistema partidário foi sendo sucessivamente modelado para produzir concentração partidária em lugar da fragmentação dos anos 1920, vista por muitos como uma das causas da ascensão do nazismo. Os partidos de massa se transformaram progressivamente em partidos populares, passando a buscar votos em todos os grupos sociais.
A Democracia Cristã (CDU) e os Social-Democratas (SPD) se fortaleceram. Com uma clara primazia da CDU, alternaram-se no poder. Mas construíram também uma base comum: uma sociedade do trabalho em que ser cidadão significava ter uma profissão e um emprego, em que o Estado era obrigado e se obrigava a garantir as condições básicas para que isso pudesse se concretizar.
Foi um mundo construído nas três décadas do pós-guerra. Mas que foi também seguido pelas últimas três décadas de neoliberalismo que o erodiram. E essa erosão da sociedade do trabalho na Alemanha levou também a um declínio das grandes maiorias eleitorais, com uma pluralização de partidos médios e a produção de governos de coalizão cujo espectro tende a ser cada vez mais amplo.
O resultado é que a ideia mesma de partido de massa ou de partido popular se tornou problemática. A discussão ficou tão estranha que muitas análises passaram a propor critérios quantitativos para a definição, como obter mais ou menos de 30% da representação no Parlamento, por exemplo. Acontece que um partido popular se faz por seu programa e por seus objetivos, não por seus resultados.
Seja como for, é fato que uma nova mudança está em curso. Não parecem ser tendências de curto prazo apenas, nem parecem se restringir ao contexto alemão somente. O Brasil, por exemplo, parece estar mais uma vez na vanguarda desse processo, com a sabida diferença de não ter conseguido passar pela experiência de uma sociedade do trabalho ordenada e garantida pelo Estado para todos os cidadãos.
A atual crise econômica encerra uma etapa histórica. Não é diferente no caso do sistema partidário.
(O colunista encontra-se na Alemanha como "observador eleitoral" a convite do Serviço de Intercâmbio Acadêmico Alemão, DAAD).

nobre.a2@uol.com.br


MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.


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