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ANTONIO DELFIM NETTO
Medidas provisórias
UMA RESTRIÇÃO de crédito,
quer deliberadamente produzida pela autoridade monetária (para reduzir, por exemplo,
a demanda agregada), quer induzida por alguma novidade superveniente que intranqüiliza o sistema
bancário e o torna mais cauteloso,
tem conseqüências sérias sobre o
presente e sobre o futuro da economia real.
Toda a fina ourivesaria que é a
chamada "economia de mercado",
que o homem descobriu ao longo
de sua história para atender com
eficácia às suas necessidades materiais, só funciona quando está presente um fator catalítico invisível: a
confiança entre os agentes. A economia real (aquela que cuida da
produção de bens e serviços e que
emprega a força de trabalho) depende do bom funcionamento da
economia financeira que lhe fornece o crédito. Trata-se do lubrificante que lhe dá a oportunidade de
mobilizar os fatores de produção
ainda não empregados para ampliar os investimentos e aumentar
o estoque de capital que acelera o
crescimento futuro.
Essa estrutura produtiva eficiente, compatível com a liberdade individual, tem seus problemas, um
dos quais é a flutuação ínsita em
torno de uma tendência permanente de crescimento. Nos últimos
dois séculos, por exemplo, o PIB
per capita dos EUA revelou 46 ciclos irregulares em torno de uma
tendência de crescimento positivo
que o multiplicou por 50. Foi este
progresso material que praticamente duplicou a expectativa de
vida ao nascer de cada cidadão, o
que é uma síntese do crescimento
humano.
O sistema financeiro é ainda
mais dependente da confiança,
porque ele tem a propriedade de,
com seus depósitos, multiplicar os
meios de pagamentos. Isso significa que, por definição, ele será ilíquido se todos tentarem retirar simultaneamente seus depósitos.
Ele só é líquido e funcional enquanto seus depositantes "acreditarem" na sua liquidez e funcionalidade.
Se um evento qualquer reduz a confiança, produz-se uma
restrição de crédito e, em seguida,
uma constrição do sistema real
com a queda da produção e do emprego. É para assegurar a "confiança" que foi inventado o banco central como agente do Estado e emprestador de última instância.
Nosso sistema financeiro é hígido e cauteloso. Não lhe falta nem liquidez nem capital. O que agora lhe
falta é o "conforto" para substituir
o crédito externo desaparecido. É
apenas isso que objetivam as recentes medidas enviadas ao Congresso pelo poder Executivo.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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