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RUY CASTRO
De volta a 1952
RIO DE JANEIRO - Uma nota no jornal, há dias, me intrigou: Georgia
Jagger, 18 anos, filha de Mick Jagger
e Jerry Hall, disse à revista "Harper's Bazaar" que "sua família não
se chocou" com as fotos em que
aparece fazendo topless para a
campanha de lançamento de um
jeans. Que bom, sua família não se
chocou.
Embatucado, li de novo a nota. O
pai da garota, Mick Jagger, seria um
certo Sr. Michael Brewster-Jagger,
58 anos, corretor de imóveis em
Gloucestershire, influente paredro
do Rotary local e filatelista amador?
E sua mãe, a Sra. Geraldine Hall, 56,
de prendas domésticas e autora de
uma receita de torta de fígado famosa na Cornualha?
Não. O dito Mick Jagger é o roqueiro de 67 anos, líder dos Rolling
Stones, que há quase meio século
incendeia fantasias e por quem mulheres e homens já se rasgaram, se
mutilaram e até se mataram. E Jerry
Hall, 54, é a mulher com quem ele
passou séculos casado, a supermodelo, a favorita do fotógrafo Helmut
Newton e rainha do infernal Studio
54, em Nova York. Os amigos do casal incluíam Salvador Dali, Andy
Wahrol e Truman Capote, e sua dieta envolvia pansexualismo, drogas,
rock'n'roll, cultos satânicos e o uso
de omeletes psicodélicos para fins
imorais.
Folgo em saber que Mick e Jerry
não se chocaram pelo topless de
Georgia para o anúncio. Em compensação, os jornais, principalmente os online, vivem se chocando com notícias sobre esta ou aquela atriz ou cantora que apareceu em
público com uma blusa transparente ou foi fotografada beijando seu
galã fora do expediente. A continuar assim, onde vamos parar?
Já parou. Eu me pergunto que
fim levaram a revolução sexual, as
relações adultas, o alegre desbum,
o fim das culpas e, principalmente,
a imprensa que não se espantava
com nada nos anos 60 e 70. A folhinha de hoje diz século 21, mas não é
verdade -voltamos a 1952.
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