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CLAUDIA ANTUNES
Justiça sumária
RIO DE JANEIRO - Os policiais militares do Rio que anteontem mataram o
guardador de carros Leandro dos
Santos Silva agiram na certeza de
que ficariam impunes. Calcularam
errado, mas a desfaçatez com que sequestraram, cobraram um "resgate"
de R$ 2.000 de Silva e, por vingança,
o mataram faz pensar se ainda é possível reformar as polícias.
Os PMs cometeram o assassinato
um dia depois de o guardador ter ido
dar queixa do sequestro de que fora
vítima ao inspetor-geral da Secretaria de Segurança, recém-investido
por Anthony Garotinho de poderes
para sanear as polícias. O provável é
que a notícia da "audácia" de Silva
tenha chegado aos policiais, que anteciparam a cobrança de R$ 1.000
que ele ainda lhes devia.
Com Silva baleado na cabeça, estendido em frente à casa na favela
Parada de Lucas, os PMs sacaram o
"kit assassino": colocaram uma arma
ao lado do corpo a fim de forjar um
"auto de resistência", jargão para
morte em confronto com a polícia,
ocorrência que vem crescendo no Rio.
Foram 132 casos em outubro, recorde
mensal dos últimos cinco anos.
É nesse detalhe que a ênfase moralizadora do secretário Garotinho encontra o seu limite. Há poucos dias,
em seu programa de rádio, ele comemorou a estatística: "Entre morrer
um cidadão de bem, um policial ou
um bandido que está armado, o que
a gente vai fazer?". Na mesma linha,
o comandante da PM, Renato Hottz,
argumenta que também mais policiais estão morrendo em serviço devido à agressividade dos traficantes
-foram quatro em outubro contra
um no mesmo mês de 2002.
O problema é que não se trata de
uma competição macabra de olho
por olho, dente por dente. É o sinal
verde para a justiça sumária que dá
à polícia o poder para arrancar propinas tanto dos criminosos nas bocas-de-fumo como dos demais moradores de favelas. Além de uma questão ética, o que está em jogo é o resgate da credibilidade da corporação policial e a eficácia de qualquer política
de segurança.
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