|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO RODRIGUES
Pensar e chutar
BRASÍLIA - Para justificar uma certa
lentidão em seu governo, Lula declarou que é preciso "fazer as coisas com
muita tranqüilidade" e "no tempo
que têm de ser feitas".
No seu programa de rádio, usou
mais uma metáfora futebolística:
"Um jogador comum que está diante
do goleiro chuta de qualquer jeito, e a
bola vai para fora. Um jogador que é
bom de bola pensa, não chuta com
força. Ele coloca a bola".
Mais ou menos. Uma vez o jogador
de futebol Falcão deu uma entrevista
na Itália no início dos anos 80. Foi indagado sobre a sua rapidez no passe.
Explicou de maneira simples, mais
ou menos assim: "Mesmo quando estou sem bola durante uma partida,
sempre fico pensando o que vou fazer
com ela se me passarem. Assim,
quando a bola chega, já estou preparado para passá-la adiante, chutar
em gol, recuar, enfim, fazer o que for
melhor para a equipe".
Se Falcão usasse a lógica de Lula, o
país teria tido um craque a menos.
Com os partidos é a mesma coisa.
Quando estão na oposição, têm de ficar o tempo todo pensando o que fariam se estivessem no governo. Quando ganham uma eleição, precisam
executar as suas idéias.
No caso do PT, as idéias que mais
colocou em prática com rapidez foram as do modelo econômico ortodoxo -herança da administração anterior. Sobre as outras áreas do governo, o processo de formulação começou a ser tocado depois que Lula chegou ao Palácio do Planalto -como o
jogador cabeça-de-bagre que primeiro precisa receber a bola para depois
pensar o que fará com ela.
Não é de todo ruim o PT deixar de
lado idéias antigas e desconectadas
da realidade. Mas essa atitude não
tem nada a ver com fazer as coisas
certas no seu tempo. É só um partido
fazendo autocrítica enquanto governa. Algumas áreas da administração
federal emperram não porque os homens de Lula sejam craques, mas
porque ainda estão pensando o que
fazer com a bola que receberam há
quase dois anos.
Texto Anterior: São Paulo - Marcos Augusto Gonçalves: Chico e a nossa quimera Próximo Texto: Rio de Janeiro - Gabriela Wolthers: Lula, o Collor da estatística Índice
|