![]() São Paulo, quarta-feira, 30 de janeiro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Diversidade na universidade
PAULO RENATO SOUZA
Em junho passado, o MEC recebeu uma missão do BID para trabalhar sobre um projeto voltado à implementação de estratégias para a promoção de acesso ao ensino superior de estudantes de grupos carentes. Rapidamente nos organizamos. O projeto se insere, segundo o BID, na categoria de inovador, sendo um projeto para ser executado no curto prazo e com verba direcionada para ações rápidas e pontuais. A diretriz central é oferecer aos alunos pobres, negros e índios igualdade de oportunidades para o ingresso e a permanência no ensino superior. O mecanismo é o financiamento de cursos pré-vestibulares especializados no atendimento à população carente, tanto para estudantes do último ano do ensino médio quanto para aqueles que já o concluíram, mas não têm condições de pagar um cursinho. Isso implica sistematizar os diversos esforços existentes na sociedade para promover o acesso dos grupos em desvantagem social a níveis mais elevados de ensino. ONGs e institutos de pesquisa serão convidados a participar de consórcios formados sob a coordenação do MEC. As instituições de ensino superior serão estimuladas a apoiar os cursos preparatórios para o vestibular destinados especificamente a alunos de escolas públicas, que incluem elevada proporção de afro-brasileiros. Apoiaremos programas semelhantes desenvolvidos por iniciativa do próprio movimento negro ou mesmo de outros movimentos sociais conscientes da necessidade de enfrentamento desse problema. Parte dos recursos será investida na formação de professores de ensino médio; em mudanças da gestão do sistema educativo com vistas ao combate às desigualdades; em pesquisas de orientação a políticas de inclusão social; e em outros projetos que se mostrem inovadores e inclusivos. O projeto será também um valioso instrumento para direcionar nosso ensino médio para trabalhar com a inclusão social e o preconceito racial como princípios da política educacional. A elaboração de material didático específico permitirá enriquecer o conteúdo do ensino com o reconhecimento da riqueza da diversidade da sociedade brasileira. Esse projeto servirá como piloto para estruturação de uma política nacional de facilitação do ingresso de negros, índios e excluídos nas nossas universidades. Quem sabe em pouco tempo poderemos instituir metas e cronogramas de forma a criar condições para que toda a população tenha acesso a mais altos níveis de educação? Certamente os próximos anos serão pródigos em respostas da sociedade à questão da desigualdade. Caminhamos para que o Brasil tenha um conjunto sistêmico e coerente de ações afirmativas não só na educação, mas também em outros setores. Mais educada nossa sociedade certamente será. O ensino médio deve ser ainda mais aperfeiçoado, para que possamos avançar na democratização plena do acesso à educação e ao devido ingresso de grupos em desvantagem social no ensino superior, assim como, desde já, devemos oferecer subsídios que auxiliem na permanência do ensino superior. A experiência bem-sucedida do Programa de Financiamento Estudantil pode e deve servir de referência. A educação é um meio privilegiado para a correção das desigualdades sociais e raciais. Merece, assim, uma ação específica para que sejam reduzidas anomalias entre os diversos grupos, ainda que ações universalistas estejam sendo realizadas de forma efetiva pelo Ministério da Educação. Paulo Renato Souza, 55, economista, é ministro da Educação. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Antonio Brito: O papel do CNAS na sociedade brasileira Índice |
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