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DOGMAS RENITENTES
Divulgada ontem, a ata da
reunião da semana passada
em que o Banco Central (BC) decidiu
aumentar novamente os juros explicita alguns dos impasses que a política econômica ainda enfrenta.
A reunião foi a primeira após o
anúncio do novo objetivo da política
monetária para 2003: limitar a alta do
IPCA (o índice de preços que serve de
parâmetro para as metas de inflação)
a 8,5%. O objetivo prévio do BC
-que consistia em manter a inflação abaixo de 6,5%- era, para muitos analistas, muito pouco factível.
Por isso a revisão foi recebida como
sinal de maior realismo do BC.
Mas as justificativas apresentadas
para a decisão, subsequente, de aumentar a taxa de juros básica revelam
os limites do aumento do realismo.
Alguns dogmas do governo anterior
continuam muito influentes no desenho da política econômica.
Em particular, subsiste o dogma de
que manejar a taxa de juros é suficiente para cumprir as metas de inflação. As experiências de 2001 e 2002
-anos em que a meta de inflação foi
descumprida, por larga margem, devido à falta de energia elétrica e à forte alta do dólar- não bastaram para
convencer as autoridades das limitações dessa abordagem.
Na prática, os dois pilares da política macroeconômica continuam a
guardar a relação de hierarquia presente há anos: a política monetária
prepondera sobre a fiscal. Os juros
altos, que visam objetivos ambiciosos no combate à inflação, mantêm a
dívida pública pressionada; a política
fiscal se vê premida, para frear a expansão da dívida, a aumentar impostos, cortar gastos e elevar a meta de
superávit fiscal.
Essa peculiar articulação entre as
políticas monetária e fiscal produz
uma hierarquização dos objetivos
macroeconômicos: a ênfase antiinflacionária prepondera sobre o estímulo ao crescimento. Não é por acaso que o peso do investimento no PIB
foi em 2002, segundo o Ipea, o mais
baixo dos últimos dez anos; que o
volume de crédito concedido pelos
bancos caiu de 37% do PIB para 24%
do PIB entre 1995 e 2002; e que o desemprego se situa em nível recorde.
As eleições evidenciaram que o respaldo popular a essa política econômica se desgastou. Mas ainda se
aguarda um redesenho mais coerente da estratégia econômica. Cabe articular os instrumentos de política
econômica de modo mais equilibrado, para que a estabilidade de preços
e o crescimento deixem de ser objetivos concorrentes e, em grande medida, recorrentemente frustrados.
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