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POLÍTICA VOLÁTIL
Não é concebível que a democracia brasileira ainda não tenha equacionado o problema da infidelidade partidária. A perspectiva de
que dezenas de congressistas mudem de legenda já nos primeiros dias
da nova legislatura prenuncia mais
uma rodada de desrespeito ao eleitor
e aos partidos prejudicados.
Se não se convencem das razões
teóricas e institucionais que apontam para a necessidade da permanência, ao longo do mandato, de um
quadro partidário que foi definido
pelas urnas, os parlamentares, pelo
menos, deveriam ser mais ciosos da
imagem de sua corporação. E a imagem de um Congresso que permite
que um deputado mude sete vezes de
agremiação no espaço de um mandato sofre inevitável abalo.
Para tripudiar, o deputado em
questão, João Caldas (que até o final
desta edição era filiado ao PL de Alagoas), não apenas se diz orgulhoso
de seu recorde como não está disposto a perdê-lo: "Se alguém bater o recorde, troco de novo."
Há muito está no Congresso um
projeto de autoria do senador Jorge
Bornhausen (PFL-SC) que, se fosse
aprovado, já representaria um grande passo rumo à fidelidade partidária. Com uma mudança singela na lei
-a ampliação de um para quatro
anos antes do pleito do tempo que
um político precisa estar filiado a um
partido para poder candidatar-se-,
o próprio interesse eleitoral se transformaria numa razão para um político pensar várias vezes antes de decidir deixar seu partido.
O projeto de Bornhausen dispensa
mudança constitucional. Não há
motivo, além da lamentável convergência de interesses fisiológicos, para que não seja aprovado rapidamente. Vale lembrar que a reforma política foi uma promessa eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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