São Paulo, quinta-feira, 30 de janeiro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Socialismo e governo Lula
TARSO GENRO
A grande indagação que existe hoje não é se o socialismo "morreu", porque, afinal, o que existiu de socialismo nos países que fizeram revoluções -cujo resultado ninguém quer de volta- indica que ele nem sequer nasceu como modo de produção duradouro. O que vingou nos países do Leste foi um projeto de socialismo informado pelo messianismo proletário, mas não obviamente seu ideal social e moral. A grande e verdadeira indagação é, na verdade, se já temos ou não no horizonte a possibilidade de um "outro socialismo". A posição sobre essa expectativa é fundamental para compreendermos a movimentação dos "sujeitos políticos", individuais ou coletivos, na conjuntura do governo Lula. É de uma dessas posições -termos ou não, no horizonte, um projeto convincente- que pode derivar a possibilidade de aceitarmos a repetição das experiências totalitárias e burocráticas do Leste: aquelas que venceram fruto de um projeto orientado pelas necessidades oriundas da miséria, e não por uma opção civilizatória. Tomemos um exemplo concreto: se sou socialista e entendo que o socialismo ainda é inspirado em revoluções do Leste Europeu, é melhor que o governo Lula não "dê certo". Por quê? Porque o governo Lula quer democratizar a renda, gerar o crescimento econômico, promover a inclusão e novos padrões de coesão social. São objetivos, obviamente, que reduzem os eventuais componentes (pobreza e atraso) da tensão revolucionária clássica que gerou as experiências do Leste e que criaria -se ocorresse- condições para a emergência de uma "crise" revolucionária. Mas, se, como socialista, entendo que é preciso recriar o conceito de socialismo, é necessário ter um governo que faça o Brasil avançar para um novo e superior patamar cultural, político e econômico, então eu -como socialista- quero que o governo Lula "dê certo". Com essa última hipótese, sustento que a possibilidade do socialismo -se escolhida pela maioria da sociedade- não será produto do atraso e da barbárie, mas originária de uma opção civilizatória de caráter democrático. Com um consenso que subordine a economia e o mercado às políticas sociais e também consiga redesenhar, no imaginário da maioria, um novo e melhor modo de vida. Neste novo projeto -aliás- devem estar respondidas inclusive questões que o socialismo passado jamais tratou com dignidade. Por exemplo, a questão da finitude dos recursos naturais, as especificidades e a universalidade das questões de gênero, a questão da subjetividade humana, o direito à desigualdade para garantir a diversidade numa sociedade viva e dinâmica. São respostas difíceis, mas imprescindíveis para a reconstrução de uma nova utopia. Tarso Genro, 55, advogado, é o secretário-executivo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Foi prefeito de Porto Alegre (1993-96 e 2001-02) e deputado federal (1989-90) Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Michel Temer: A unidade possível Índice |
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