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TROCA COM O HIZBOLLAH
Nem o sangrento atentado terrorista que deixou pelo menos
dez mortos em Jerusalém impediu o
governo de Israel de seguir em frente
com a polêmica troca de prisioneiros
com o grupo extremista libanês Hizbollah. As controvérsias em torno do
acordo começam nos números. Para
obter a libertação de um prisioneiro e
reaver os corpos de três soldados
mortos, Israel está soltando 430 árabes e devolvendo os restos mortais
de 59 combatentes.
Mesmo que se admita que trocas de
prisioneiros não são negociações comerciais e que não se podem atribuir
valores numéricos a vidas humanas,
ainda assim a desproporção salta aos
olhos. Críticos israelenses da decisão
dizem que ela fortalecerá o Hizbollah e poderá incentivar grupos extremistas a seqüestrarem cidadãos israelenses para depois os trocarem
por militantes capturados.
Também se questiona o fato de Israel ter aceitado negociar com um
grupo guerrilheiro. A restrição, porém, é mais retórica do que prática.
Jerusalém já negociou com o Hizbollah no passado em questões pontuais. Também faz acordos com a
Autoridade Nacional Palestina e com
a Síria, que mantêm ligações com o
terrorismo.
Em defesa do acordo, que vem sendo negociado há anos e contou com
a mediação da Alemanha, o governo
israelense levanta apenas o argumento humanitário. Existem também, é certo, motivações políticas,
embora elas sejam menos claras. Os
números podem ser relativizados.
Grande parte dos prisioneiros trocados são palestinos contra os quais
não pesavam acusações graves. Seriam libertados de qualquer maneira.
No que diz especificamente respeito ao Hizbollah, tê-lo como interlocutor pode não ser um mau negócio
para Israel. O grupo passa por um
processo de institucionalização. Já se
converteu num partido político no
Líbano e vem mantendo a ordem no
sul do país, sem provocar maiores
atritos com os israelenses. Sua rivalidade com o governo central de Beirute também pode interessar ao premiê
Ariel Sharon na medida em que contribui para impedir a consolidação de
um governo mais forte no Líbano.
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