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CLÓVIS ROSSI
Não são chorões, são cúmplices
SÃO PAULO - Chega a ser patético esse bate-boca indireto entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e alguns empresários sobre quem chora e
quem não chora, quem é culpado e
quem não é.
O presidente, como tem acontecido
com notável freqüência desde que tomou posse, erra de novo o alvo. O
problema do empresariado brasileiro
não é o fato de ser "chorão", mas o de
ser silencioso demais em relação às
obscenas condições de vida.
Claro que há exceções, como sempre. Claro que generalizar, como reclamou Antônio Ermírio de Moraes,
é incorreto. Mas vamos a um exemplo bem imediato: o dos assassinatos
de fiscais do Trabalho em Minas Gerais, aparentemente para evitar um
flagrante de trabalho escravo.
Vamos admitir, para raciocinar,
que a maioria dos fazendeiros mineiros (e brasileiros) não adota o trabalho escravo. Mas adota o silêncio a
respeito de seus pares que o fazem.
Não dá para acreditar que, trabalhando todos no mesmo ramo, os decentes não saibam -ou ao menos
não suspeitem- o que fazem os indecentes. Se colaborassem com as autoridades, denunciando-os, o trabalho escravo acabaria.
Ainda que não quisessem ser delatores, já ajudaria se tratassem ao menos de isolar os indecentes da vida associativa ou comunitária. Mas não.
Vão todos às mesmas festas, o que
ajuda a perpetuar mais essa mancha
em um país que nunca consegue deixar de ser medieval.
É bom lembrar que uma parte do
empresariado financiou a campanha
de Fernando Collor em 1989 mesmo
sabendo que se tratava de um aventureiro indecoroso. Preferiu a sabida
falta de decoro (para usar expressão
bem branda) a experimentar um
partido de esquerda no governo.
Já o governo do PT não tem moral
para criticar quem quer que seja depois de tudo o que disse, fez ou deixou
de fazer. Afinal, quem passou um
ano inteiro chorando a "herança
maldita" tem lá autoridade para
acusar os outros de chorões? Pobre
Brasil, mais uma vez atolado numa
falsa e patética polêmica.
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