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São Paulo, domingo, 30 de março de 2003

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O FRONT QUE CONTA

Toda guerra, inclusive a atual, se trava em vários planos simultaneamente. Há o front militar propriamente dito, a opinião pública dos países beligerantes, a questão financeira e o apoio da comunidade internacional, para citar alguns dos aspectos mais relevantes.
Do ponto de vista estritamente militar, não haveria meio de as forças americanas serem derrotadas neste conflito. Sua superioridade tecnológica é insuperável. Se tudo desse errado para os exércitos dos EUA, ainda assim os generais do Pentágono poderiam vencer a guerra lançando um artefato nuclear em Bagdá, o que acabaria com Saddam Hussein, seus acólitos e milhões de civis.
Mas os generais não deverão utilizar sua força total em virtude de limitações políticas. A opinião pública, tanto a americana como a internacional, rejeitaria com violência o emprego de bombas atômicas. A vitória no plano militar revelar-se-ia uma tremenda derrota política. E derrotas políticas podem ser ainda mais incisivas do que as militares. Foi no campo da opinião pública interna, e não no front, que os EUA perderam a Guerra do Vietnã.
Por enquanto, o presidente George W. Bush conta com um confortável apoio da opinião pública norte-americana. Cerca de dois terços da população defendem a guerra. Mas a inesperada resistência demonstrada pelos iraquianos, que pode levar ao prolongamento da guerra, abre flancos para o imponderável.
Quanto mais longo for o conflito, maiores serão as chances de os norte-americanos serem defrontados com eventos que podem minar o apoio a Bush. Um número superlativo de soldados dos EUA mortos pode ser um deles. Os constantes "enganos" das bombas "inteligentes", que acertam e matam civis, ajudam a corroer o prestígio da coalizão anglo-americana. Outro elemento importante revelado pela resistência de Saddam é a percepção, pelos americanos, de que os iraquianos talvez não desejem ser "libertados", ao menos não por tropas invasoras.
E vale lembrar que a aventura bélica do presidente Bush já conta com sólida oposição da opinião pública internacional. De algum modo, o que se passa no mundo acaba refletindo-se também nos EUA, ainda que em parcelas restritas da população.
Por enquanto, a resistência iraquiana só fez diminuir o otimismo dos norte-americanos em relação ao andamento do conflito, mas o apoio à guerra segue alto. Se os combates se prolongarem, porém, outros indicadores poderão sofrer brusca variação. O próprio Bush e seus principais auxiliares parecem ter-se dado conta da situação. O presidente queixou-se, por exemplo, do comportamento da imprensa americana que questionou -e muito levemente, diga-se- os planos militares, num claro indício de que as coisas não estão caminhando como Bush desejaria.
Embora as atenções estejam voltadas para a tela da TV, que transmite ao vivo batalhas e bombardeios, essa guerra, como outros conflitos em que as forças beligerantes são desproporcionais, será decidida também no front político.


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