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São Paulo, domingo, 30 de março de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A vítima na guerra da notícia

SÃO PAULO - Noite dessas, em debate sobre o ataque ao Iraque na TV-5, o canal a cabo da francofonia, um ex-presidente da organização "Médicos sem Fronteira", disse que "nunca antes houve tantos jornalistas no teatro de operações, mas nunca antes houve tanta desinformação".
Exagero à parte (desinformação é tão ou mais comum em guerras do que tiros), o fato é que choca comprovar que, mesmo com a cobertura ao vivo e em cores dos ataques, mesmo com a tecnologia dos videofones, mesmo com a facilidade de comunicações hoje existente, é tremendamente difícil entender o que está acontecendo.
Seria tentador concluir daí que o primeiro derrotado do conflito é o jornalismo. Talvez até seja verdade, mas é sempre bom tomar cuidado com as generalizações. Por mais que elogio em boca própria seja vitupério, é óbvio que os bravos Sérgio Dávila e Juca Varella estão prestando inestimável serviço ao leitor.
Quem, na verdade, está perdendo a guerra é o jornalismo norte-americano. O que torna a derrota mais grave é o fato de que a mídia dos Estados Unidos é tida como modelo em todo o mundo, em especial no Brasil.
Um modelo que se tornou mais respeitável ainda durante a guerra do Vietnã, em que a independência e a crítica foram exercidas em circunstâncias extremamente delicadas pelo emocionalismo de toda guerra.
Até os atentados de 11 de setembro, qualquer leitor/telespectador que só pudesse consultar uma fonte jornalística internacional recorreria ao jornalismo norte-americano e estaria razoavelmente bem servido.
Agora não. No caso do ataque ao mercado de Bagdá, na quarta-feira, a britânica BBC fez um trabalho muito mais decente e informativo. E trata-se de uma emissora pública, financiada por um governo que entrou com tudo na guerra.
Não é só a BBC. A Rede Globo, mesmo com todas as imensas limitações orçamentárias e sua pobreza comparativa em relação às redes dos EUA, deixa seu público mais informado.


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