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QUE CRISE?
Há quem diga que o isolamento do poder muitas vezes
produz vertigens e dificulta a percepção de certos aspectos da realidade.
Cercado de mesuras, relatórios e versões dos acontecimentos elaboradas
por assessores, governantes em algumas ocasiões se mostram desconectados dos fatos do dia-a-dia. Talvez isso ajude a explicar as declarações do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva de que não há crise política,
mas sim uma articulação de "forças
conservadoras" para uma "guerra
contra o governo" em ano eleitoral.
Chega a ser constrangedor ter que
lembrar o presidente da República
do séquito de conservadores que seu
governo tem atraído e ao qual ofereceu posições estratégicas, seja no
Executivo, seja em seu braço parlamentar. É igualmente desconfortável
precisar apontar para o primeiro
mandatário as evidências da crise
política. Se é fato que há interesses
eleitorais em jogo, é também inegável que o governo passa por uma
aguda paralisia desde que o ministro
da Casa Civil, José Dirceu, viu seu
prestígio abalado pelo episódio Waldomiro Diniz. Nas semanas subseqüentes ao caso, o Planalto e seus colaboradores deram seguidas provas
de inabilidade para administrar conflitos, contribuindo mais para acirrá-los do que para dissolvê-los.
A fraqueza na articulação, aliada a
uma dinâmica econômica que tarda
em mostrar bons resultados, já atingiu o prestígio do presidente, como
revelou recente pesquisa do Ibope. O
levantamento mostra que as notícias
relativas ao escândalo Waldomiro
Diniz são as mais lembradas espontaneamente pelos entrevistados. Evidencia também forte deterioração
nas expectativas sobre o futuro da
economia. Outra pesquisa, divulgada ontem, a cargo do instituto Census, confirma o cenário negativo.
Essa é a realidade. E ela só será mudada para melhor com atos e decisões que convençam a sociedade de
que o Planalto caminha na direção
do cumprimento de seus compromissos. É preciso que o governo recobre a iniciativa, dê passos à frente e
afaste de uma vez a impressão generalizada de que o país passa por uma
grave crise de autoridade.
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