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CLÓVIS ROSSI
50 anos no Terceiro Mundo
MADRI - Estamos comemorando o cinqüentenário do Terceiro Mundo,
expressão cunhada originalmente
por pesquisadores franceses em 1952,
mas consolidada em 1995, na 1ª Conferência de Solidariedade Afro-Asiática, em Bandung, na Indonésia.
O lembrete vem de um extraordinário brasilianista, Ignacy Sachs, diretor do Centro de Pesquisas sobre o
Brasil Contemporâneo da Escola de
Altos Estudos em Ciências Sociais.
Está no número mais recente da "Desafios do Desenvolvimento", excelente revista mensal editada em conjunto pelo Ipea (Instituto de Pesquisas
Econômicas Aplicadas) e pelo Pnud
(Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento).
Não há, a rigor, o que comemorar
nesse cinqüentenário. Para começar,
Terceiro Mundo é expressão fora de
moda pela simples e boa razão de que
acabou o "segundo mundo" (o mundo comunista). Sobraram uma dúzia
de países ricos e o resto.
No caso do Brasil, que faz parte do
"resto", em vez de comemorar, o que
se deve é lastimar o fato de que não
fomos capazes de sair do subdesenvolvimento, ao contrário do que se
buscava com a Conferência de Bandung, que "deu grande impulso à
problemática do desenvolvimento",
como escreve Sachs.
O brasilianista resume desenvolvimento como "a universalização efetiva dos direitos políticos, cívicos e civis, econômicos, sociais, culturais,
ambientais e tanto outros. E que a inclusão social pelo trabalho deve ser
preferida, sempre que possível, às políticas sociais compensatórias".
Para ser justo, é fato que o Brasil
avançou em matéria de direitos políticos, cívicos e civis. Mas não creio
que haja alguém, a não ser um cínico, capaz de dizer que todos os direitos do parágrafo anterior foram
"universalizados" ou que a inclusão
social está sendo feita pelo trabalho, e
não pelos "sopões", nome vulgar de
políticas sociais compensatórias.
Nessas circunstâncias, é melhor deixar mesmo passar em branco os 50
anos do Terceiro Mundo, já que não
conseguimos sair dele.
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