São Paulo, quarta-feira, 30 de março de 2005

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FERNANDO RODRIGUES

Fisiologia

BRASÍLIA - Um sujeito andava outro dia pelos salões do Congresso prometendo uma mesada de R$ 2 milhões para a bancada de deputados que conseguisse indicá-lo para a diretoria de uma grande empresa estatal. Essa pessoa quer roubar. Seu nome está em uma lista que repousa dentro do Planalto. Não se sabe o que Lula fará, mas alguns deputados dão a nomeação como certa. O fato é que vários partidos estão finalmente recebendo o seu quinhão dentro do governo. Ninguém sabe ao certo quantos cargos federais de confiança e de alguma importância existem. A conta mais conservadora é que são, pelo menos, umas 2.000 posições. O loteamento dessas vagas será usado agora para garantir as alianças da reeleição de Lula em 2006. Na semana passada, ao saber que uma listinha de nomes do PTB estava parada nos escaninhos da Casa Civil, o próprio Lula mandou consumar as nomeações. As posições cobiçadas pelos petebistas são de locais como Petroquisa, Furnas, BR Distribuidora, Correios, Caixa Econômica Federal, Itaipu e Anvisa. O PTB é comandado pelo ex-collorido Roberto Jefferson, hoje pró-Lula. Como se sabe, trata-se de partido historicamente conhecido por ter quadros administrativos altamente qualificados. A agremiação deseja apenas contribuir para melhorar a capacidade gerencial da administração lulista. Está quase lá. Essa é a mesma intenção nobre de outras siglas. PL, PMDB, PP e outros só querem ajudar Lula a fazer um governo mais eficaz. Por essa razão, pedem cargos. O presidente parece cada vez mais sensível a esses apelos. O eufemismo chapa-branca é que Lula entrou na articulação política (sic). No fundo, está abrindo de uma vez o resto da porteira para o fisiologismo. Não deixa de ser uma maneira de romper com o imobilismo do qual alguns acusam o governo.

 

Lula adotou a auto-ajuda. Anteontem disse: "Se você pensa positivo, as coisas serão positivas". Tenha dó.


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