São Paulo, quarta-feira, 30 de março de 2011

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

O empresário cordial

SÃO PAULO - José Alencar era um tipo bonachão, sorridente e contador de "causos". Dava a impressão de estar sempre confraternizando com as pessoas. Mesmo durante seu calvário, parecia se comportar de forma amena e otimista. Conquistou a simpatia popular e será lembrado sobretudo por essa teimosia mansa contra a morte.
Em termos políticos, Alencar desempenhou alguns papéis importantes para Lula. A começar pela eleição, em 2002, quando, num ambiente de muita desconfiança contra o petista, funcionou como uma espécie de "sossega-empresário". O vice não era um industrial qualquer. Tinha peso. Sua presença na chapa reforçava, para além da retórica, os compromissos assumidos na famosa "Carta ao Povo Brasileiro", dirigida aos mercados.
Justiça seja feita: o artífice da aliança com o PL e da escolha de Alencar como par do metalúrgico não foi Lula, mas José Dirceu.
Em 2005, quando eclodiu o mensalão, Dirceu caiu e Lula viveu a maior crise de seu governo. A palavra impeachment passou a rondar o noticiário, mas Alencar em nenhum momento se assanhou. Não deu margem para que alguém achasse que poderia contar com ele para desestabilizar o presidente. Dilma, em situação semelhante, poderia ter a mesma confiança?
Alencar foi ainda uma espécie de grilo falante do governo, sempre protestando contra os juros altos. Com o passar do tempo (e o sucesso de Lula), essa ideia fixa o transformou num personagem algo folclórico, meio café com leite.
Ruim -nada folclórico, mas bem típico do patriarcalismo brasileiro- foi seu comportamento diante da filha que se negou a reconhecer e a maneira com que se referiu à mãe, procurando desqualificá-la.
Alencar era, enfim, o próprio empresário cordial -um símbolo da aliança entre capital e trabalho num governo de comunhão nacional. Não há dúvida de que Lula, pai dos pobres, mãe dos ricos, tinha nele uma espécie de cara-metade.


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