São Paulo, quarta-feira, 30 de março de 2011 |
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FERNANDO RODRIGUES O vice e a tolerância BRASÍLIA - Há cerca de oito anos, a então poderosa vice-diretora-gerente do FMI, Anne Krueger, visitava o Brasil. O ministro da Fazenda da época, Antonio Palocci, esforçava-se para dar informações sobre a solidez da economia e das medidas para conter a taxa de inflação. Por coincidência, era uma das interinidades de José Alencar no Planalto. Palocci e Krueger foram até ele. Ouviram imprecações contra as altas taxas de juros. Apesar do espanto de Anne Krueger, a conversa transcorreu calma. Teve até um desfecho bem-humorado pela presença de espírito de José Alencar: "Eu vou dizer uma coisa para a senhora. Aqui, quem bate nos juros sou eu. Não vou deixar para a oposição bater, não". Palocci lembrou-se ontem de detalhes dessa história depois de saber da morte do ex-vice. Houve dezenas de episódios semelhantes nos oito anos em que Alencar secundou Lula. Ele divergia em público sem provocar crises. Houve um estranhamento inicial, é verdade. Depois, compreendeu-se ser natural num governo com 500 mil funcionários existir alguém com coragem de pensar de forma contrária ao senso comum. "Ele provou que a polêmica num ambiente de democracia e respeito faz muito bem ao país", avalia Palocci, talvez um dos mais açoitados pelas críticas do ex-vice-presidente contra os juros altos. Na prática, José Alencar colaborou ao empregar um caráter mais maduro ao cargo que ocupou. Se as pessoas têm opiniões, por que não apresentá-las em público? Antes, bom era o vice quase mudo, com ideias circunscritas aos limites estabelecidos pelo Planalto. Ao vocalizar seus conceitos sobre a economia, Alencar emprestou também respeitabilidade a uma tese antes um pouco órfã dentro do establishment. Não saiu vitorioso. Os juros continuam na Lua. Mas o Brasil tornou-se mais adulto. Mais tolerante com quem ousa pensar com a própria cabeça. fernando.rodrigues@grupofolha.com.br Texto Anterior: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: O empresário cordial Próximo Texto: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Que sirva de lume Índice | Comunicar Erros |
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