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CLÓVIS ROSSI
Qual é o século?
BUENOS AIRES - Diz o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci: "Evidentemente, nós não podemos dar
respostas do século 19 a problemas do
século 21. A esquerda também evolui". É, como se sabe, uma crítica aos
mal chamados radicais do PT, que se
opõem a pontos importantes das reformas defendidas pelo governo e a
aspectos ainda mais importantes da
política econômica.
Aceitemos a frase apenas para poder contra-argumentar. A partir dela, a pergunta seguinte só pode ser: a
que século pertencem as reformas e a
política econômica?
Com alguma condescendência, pode-se responder que pertencem ao século passado. Haverá alguns que até
recuarão mais no tempo para dizer
que as novas políticas reproduzem
Maria Antonieta (século 18, portanto): para ela, quem não tinha pão deveria comer brioche. Agora, quem
não tem emprego que coma "sopão",
e estamos conversados.
Mas enveredar por aí seria birra. O
fato concreto e indisputável é que, no
mínimo, o PT pratica uma política
do século passado, já testada (e desaprovada) em incontáveis países da
América Latina e do mundo. E um de
seus principais ideólogos, não obstante, vem reclamar "respostas do século 21".
Suspeito até de que Luiz Inácio Lula da Silva tenha sido eleito com a expectativa de que, ele sim, inventaria
soluções do século 21.
Até agora, apenas reinventou o mofino discurso das reformas, que já viraram uma espécie de muleta retórica. Em qualquer análise de gente do
governo (deste e do anterior, aliás) e
dos inefáveis analistas de mercado, a
palavra reforma surge como o "abre-te Sésamo", a pomada maravilha
que curará todos os males, de pé-de-atleta a Aids.
Nada contra as reformas. Tudo
contra desonestidade argumentativa. Antes de criticar quem critica certas coisas do governo, governistas como Dulci deveriam reconhecer que,
eleitos, voltaram ao século passado e
passaram a enxergar méritos no que
antes fulminavam liminarmente.
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