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HORROR E CRÍTICA
"Nós não torturamos pessoas na América", disse o
presidente George W. Bush numa
entrevista à TV australiana em 18 de
outubro de 2003. Se o presidente
norte-americano pode assegurar que
esse é o procedimento que vigora no
país, há indícios de que norte-americanos têm recorrido a métodos condenáveis de tratamento de prisioneiros no Afeganistão, em Guantánamo (Cuba) e no Iraque.
A divulgação, pela rede de televisão
CBS, de fotos supostamente tiradas
por soldados americanos de iraquianos sendo torturados na prisão de
Abu Ghraib, em Bagdá, confirma o
que já se receava: que a tortura é um
dos métodos pelos quais as tropas
dos EUA estão extraindo informações de prisioneiros. Suspeitas semelhantes já foram levantadas em
relação a detidos no Afeganistão e na
base de Guantánamo.
No caso do Iraque, as suposições
ganham materialidade com investigações do próprio Exército que levaram à exoneração de 17 militares
apontados como envolvidos, dos
quais seis deverão ser julgados.
É verdade que não existem guerras
isentas de episódios de brutalidade.
Nada, porém, justifica a tortura de
pessoas aprisionadas pelas Forças
Armadas dos EUA e, com isso, colocadas sob a guarda do Estado norte-americano. Ainda que essa não seja,
obviamente, a política oficial de
Washington, preocupa a multiplicação de casos de ex-detentos relatando ter sofrido maus-tratos. Lamentavelmente, há motivos para suspeitar
que muitos comandantes tolerem
atitudes mais violentas de suas tropas, principalmente quando elas resultam em informações valiosas.
Desse deplorável quadro de guerra
e tortura emerge uma boa notícia. Os
meios de comunicação norte-americanos parecem estar acordando da
letargia a que foram levados após os
ataques de 11 de Setembro e começam a questionar, ainda que de modo desigual, decisões e políticas do
governo Bush. Pode-se falar mesmo
numa certa impaciência demonstrada por setores da mídia, que vão se irritando, por exemplo, com a tentativa da Casa Branca de vetar imagens
de caixões de soldados mortos no
Iraque.
Vale frisar que isso tudo ocorre ao
lado dos trabalhos da comissão independente que investiga possíveis
erros de atuação do governo para
prevenir os ataques terroristas de
2001 e de notícias sobre a piora da situação de segurança no Iraque. Como é natural, vai caindo o apoio da
população dos EUA à guerra. Pesquisa CBS News/New York Times divulgada anteontem mostra que 47% dos
norte-americanos acham que foi correta a decisão de invadir o Iraque. Há
um ano, 70% apoiavam a ação. Esse
descontentamento pode, é óbvio,
produzir efeitos sobre a disputa eleitoral pela Casa Branca.
Seja como for, é preciso saudar a
nova disposição da mídia. Depois de
mais de dois anos e meio de docilidade em relação à Casa Branca, vai ressurgindo algo do espírito crítico que
deve ser a marca da imprensa livre.
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