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Editoriais
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Gente suspeita
CALCULA-SE que cerca de
30% dos habitantes do Estado americano do Arizona
tenham origem hispânica. Há razões para crer que, em decorrência da cor de sua pele ou de algum
outro indicador étnico, os membros dessa comunidade estejam,
a partir de agora, sob o risco de
passar pelo constrangimento de
abordagens policiais.
Na semana passada, o governo
local, do Partido Republicano,
sancionou uma lei que permite
às autoridades exigir a documentação de todo indivíduo sobre o
qual paire "suspeita razoável" de
ter entrado no país ilegalmente.
Mais do que isso, autoriza-se a
prisão, sem mandado, de quem a
polícia acreditar ter cometido algum ato ilegal.
Embora não esteja explícita
nenhuma discriminação direta
contra pessoas de origem latino-americana, é implausível que
pessoas de origem europeia se
sintam obrigadas a ter os papéis
em ordem de agora em diante. Só
quem tiver traços latino-americanos, na prática, despertará
suspeitas de ser ilegal.
A legislação conta com o apoio
da maioria dos habitantes do
Arizona. Os Estados vizinhos do
Texas e da Califórnia desenvolveram mecanismos, eletrônicos
e físicos, para barrar a entrada de
imigrantes indesejados; segundo
os defensores da medida, o Arizona tornou-se assim a via preferencial da intrusão hispânica.
Numa reação em cadeia, são
agora os demais Estados que cogitam de adotar a nova lei, temendo que os ilegais do Arizona
procurem fixar-se nos lugares
em que não se autorizaram ainda
métodos tão draconianos de intervenção policial.
A espiral de discriminação pode ser interrompida, temporariamente, por meios judiciais.
Argumenta-se que a questão da
imigração pertence à esfera federal, não cabendo aos Estados legislar sobre o tema.
Federal ou não, o fato é que
permanecerá irresolvida, enquanto iniciativas de assimilação, de desenvolvimento e de
emprego mais razoáveis não vierem a ser implementadas.
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