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Culpa coletiva
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Pesquisa divulgada
esta semana revelou que a violência é
hoje a maior preocupação do Rio de
Janeiro em todas as classes sociais e
faixas etárias. Praticamente, de forma
violenta morre um habitante desta cidade a cada hora. Em São Paulo, pelo
que leio nas folhas, a situação, se não
igual, é equivalente.
Fica fácil botar a culpa nos atuais
governantes, e eles são culpados de fato, sobretudo o presidente da República, que incluiu o problema entre as
cinco prioridades de seu governo. Mas
há uma culpa coletiva em todas as
tragédias sociais.
Discute-se até hoje o caso do nazismo e são muitos -e categorizados-
aqueles que admitem a culpa coletiva
do povo alemão na maior tragédia do
século. Os horrores do Terceiro Reich
podem ser personalizados em bestas
humanas com cara e nome, mas houve
uma tolerância, senão uma geral e velada cumplicidade em tudo aquilo.
Pode não parecer, mas, no que diz
respeito à violência urbana que sofremos, há também uma complacência
generalizada diante de suas causas.
Cito apenas duas, as mais visíveis: o
desemprego e a droga.
Na questão do desemprego, firmas
grandes, médias e pequenas lamentam a crise, mas se desapertam à primeira dificuldade com a demissão às
vezes em massa de seus empregados. É
o caminho mais cômodo e menos criativo para enfrentar uma crise de caixa
ou de produção. Em muitos casos, a
demissão é apenas uma esperteza para abrir espaço ao mercado informal
de trabalho.
Com a droga, a sociedade condena
radicalmente o traficante, mas ainda
não encontrou uma solução para o caso do dependente. Enquanto houver
dependente, haverá traficante e crime.
Evidente que traficante e dependente terão de ser encarados de forma diferenciada. Mas tolerar ou até mesmo
bajular o dependente é uma forma de
manter o núcleo sobre o qual se arma
a estrutura do crime organizado.
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