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São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003

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A BICICLETA

A imagem escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para descrever o atual estágio da economia brasileira -uma "bicicleta ergométrica", que, ao ser pedalada, não sai do lugar- retrata bem o desempenho do PIB no primeiro trimestre, divulgado ontem pelo IBGE. Houve crescimento sobre igual período do ano passado, mas estagnação em relação ao trimestre anterior.
O quadro de paralisia era previsível, assim como os novos números do desemprego, que subiram pelo quarto mês consecutivo na região metropolitana de São Paulo. A taxa atingiu, em abril, 20,6% da População Economicamente Ativa (PEA), o que corresponde a 1,9 milhão de pessoas. Trata-se do mais elevado patamar de desocupação desde que a pesquisa da Fundação Seade e do Dieese começou a ser realizada, em 1985.
A taxa aumentou em praticamente todos os segmentos populacionais, com destaque para a faixa de idade entre 25 e 39 anos. Também o rendimento médio dos trabalhadores assalariados foi afetado, declinando 8,5% em relação a março de 2002.
A retração do PIB e os indicadores de desemprego sugerem baixíssimo risco inflacionário e praticamente descartam movimentos de reindexação de salários. A projeção de inflação medida pelo IPCA para os próximos 12 meses segue mostrando tendência de queda. O IGP-M de maio já registra deflação.
Já está mais do que na hora, portanto, de a bicicleta começar a andar. Para manter a imagem proposta pelo presidente, é forçoso constatar que bicicletas ergométricas não se deslocam -o que recomendaria uma troca de modelo. As condições estão dadas. A insistência na política de juros estratosféricos vai produzindo sequelas indesejáveis. Agrava-se um quadro contra o qual o governo prometeu e promete trabalhar. É tempo de a autoridade monetária iniciar um movimento consistente de redução da taxa Selic, sinalização fundamental para que os bancos revertam a ascensão dos juros cobrados às empresas e consumidores. A atividade econômica precisa sair de onde está.


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