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LIBERALISMO RADICAL
O novo pacote de corte de impostos do governo Bush foi recebido com grande apreensão nos
meios financeiros internacionais. O
conservador diário londrino "Financial Times" expressou-se em editorial intitulado "Desvario tributário".
O receio é de que o corte de impostos, que se estende por dez anos, coloque o déficit fiscal dos EUA em trajetória explosiva.
O governo Bush responde à crítica
afirmando que o pacote ajudará a impedir uma recessão nos próximos
meses. Afirma, além disso, que o
crescimento será estimulado continuamente pela redução de impostos,
reforçando a receita tributária e desmentindo as previsões "alarmistas"
sobre a trajetória do déficit.
Os críticos retrucam que o pacote
será pouco eficaz contra a ameaça de
recessão, porque a redução imediata
de impostos é pequena. Ao longo do
tempo, o estímulo ao crescimento
continuaria limitado, porque o corte
de impostos beneficia sobretudo os
mais ricos, que têm menor propensão a aumentar seus gastos.
As críticas ao novo pacote de Bush
vão além. Uma delas já vinha sendo
ventilada há tempos: a perspectiva de
alta do déficit fiscal pressionaria a taxa de juros de longo prazo, prejudicando o crescimento, e agravaria a
fragilidade do dólar ante as demais
moedas fortes, podendo provocar
uma situação financeira perigosa.
Outra preocupação, que vinha sendo manifestada por analistas ligados
ao partido Democrata, como Paul
Krugman, acaba de receber o endosso do "Financial Times". Trata-se da
suspeita de que o governo Bush avalia que o corte de impostos poderá
criar uma crise fiscal, mas pretende
aproveitar a oportunidade para aprovar agressivos cortes de gastos sociais. Em condições normais, o Congresso recusaria tais cortes, mas, em
meio a uma crise fiscal, elas poderiam se tornar inevitáveis.
O liberalismo radical da administração Bush começa a incomodar até
setores conservadores, que se assustam com a perspectiva de desmonte
de uma rede de proteção social construída ao longo de décadas.
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