São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

Raciocínio binário

BRASÍLIA - Há um frenesi no governo por conta do recorde atrás de recorde nas exportações do país.
O boletim "Em Questão", produzido pela Presidência da República e apelidado rapidamente em Brasília de "Pravda petista", anunciou com júbilo que "há um crescimento muito acima da média" da exportação brasileira "nos lugares por onde passou a comitiva brasileira" com Lula.
Mais ou menos. Não tão rápido. Os redatores governistas fizeram um estágio pela metade com Duda Mendonça -ou não. Ao final do "Em Questão" que anunciou o milagre das exportações lulistas, há alguns países citados. Demonstrariam o poder magnético exercido por Lula em suas andanças pelo exterior.
Um exemplo: as exportações para a Síria cresceram 805% de novembro de 2003 a maio de 2004 em comparação com o mesmo período um ano antes -de US$ 10,2 milhões para US$ 81,8 milhões. OK. US$ 81,8 milhões equivalem a 0,1% de tudo o que o Brasil exporta. Não é nada, não é nada... não é nada mesmo.
As viagens de Lula ajudam a promover o comércio brasileiro. Não há disputa a respeito. O exagero, quase poético e ingênuo, está em atribuir os recordes de exportação à agenda internacional do presidente.
Há contra-exemplos que o "Pravda petista" não menciona. Lula já foi três vezes à Suíça. As exportações para aquele país despencaram 26,73% em 2003 versus 2002.
Outros casos são Equador, Bolívia, Uruguai e Índia, países visitados por Lula e que registraram redução nas exportações -de 8,56%, 14,47%, 1,7% e 15,37%, respectivamente.
A julgar pelo raciocínio binário do "Em Questão", a oposição pode fazer um boletim com a seguinte manchete: "Vendas brasileiras caem em países visitados por Lula". Seria uma generalização mentirosa. Assim como não é verdade que as exportações crescem em alguns locais só por causa da passagem do presidente.


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