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FERNANDO RODRIGUES
Raciocínio binário
BRASÍLIA - Há um frenesi no governo por conta do recorde atrás de recorde nas exportações do país.
O boletim "Em Questão", produzido pela Presidência da República e
apelidado rapidamente em Brasília
de "Pravda petista", anunciou com
júbilo que "há um crescimento muito
acima da média" da exportação brasileira "nos lugares por onde passou a
comitiva brasileira" com Lula.
Mais ou menos. Não tão rápido. Os
redatores governistas fizeram um estágio pela metade com Duda Mendonça -ou não. Ao final do "Em
Questão" que anunciou o milagre
das exportações lulistas, há alguns
países citados. Demonstrariam o poder magnético exercido por Lula em
suas andanças pelo exterior.
Um exemplo: as exportações para a
Síria cresceram 805% de novembro
de 2003 a maio de 2004 em comparação com o mesmo período um ano
antes -de US$ 10,2 milhões para
US$ 81,8 milhões. OK. US$ 81,8 milhões equivalem a 0,1% de tudo o que
o Brasil exporta. Não é nada, não é
nada... não é nada mesmo.
As viagens de Lula ajudam a promover o comércio brasileiro. Não há
disputa a respeito. O exagero, quase
poético e ingênuo, está em atribuir os
recordes de exportação à agenda internacional do presidente.
Há contra-exemplos que o "Pravda
petista" não menciona. Lula já foi
três vezes à Suíça. As exportações para aquele país despencaram 26,73%
em 2003 versus 2002.
Outros casos são Equador, Bolívia,
Uruguai e Índia, países visitados por
Lula e que registraram redução nas
exportações -de 8,56%, 14,47%,
1,7% e 15,37%, respectivamente.
A julgar pelo raciocínio binário do
"Em Questão", a oposição pode fazer
um boletim com a seguinte manchete: "Vendas brasileiras caem em países visitados por Lula". Seria uma generalização mentirosa. Assim como
não é verdade que as exportações
crescem em alguns locais só por causa
da passagem do presidente.
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