São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Quem são as penas de aluguel?

SÃO PAULO - O vice-presidente José Alencar e o ministro Ciro Gomes fizeram gravíssimas acusações que, suspeito, ninguém vai cobrar.
Refiro-me à suposta (ou real) censura que ambos estariam sofrendo por conta da crítica aos juros altos ou por, segundo Ciro, pensar "alternativas que não sejam essa ortodoxia imposta por esse modelo econômico".
O grave nessa história não é tanto a suposta censura. Embora nem o ministro nem o vice-presidente sejam de fatos sabotados quando emitem suas opiniões, o fato é que a ortodoxia criou uma forte asfixia no debate público, marginalizando os dissidentes (ou "debochando" deles, como prefere Ciro).
Grave mesmo é a acusação de que o "deboche" vem de "articulistas alugados", segundo o ministro.
Ciro tem a obrigação elementar de dar nome aos bois. Quem são os alugados? Quem os aluga?
É bom deixar claro que não me sinto atingido, porque um dos poucos pecados que não cometo é defender o modelo atual ou os juros altos. Mas boa parte dos colunistas é fã de carteirinha do modelo.
Passam a ser todos suspeitos de estarem agindo não por convicção, mas por sórdidos interesses.
Assim como fica a suspeita de que alguém do próprio governo esteja alugando articulistas para defender o modelo. Afinal, quem, além das instituições financeiras, tem o maior interesse em que digam que a política atual é boa, correta e, portanto, não deve ser modificada? A resposta é óbvia: os setores do governo que a impuseram e a mantêm.
Não sei se o ministro terá a coragem de dar nome às penas de aluguel. Mas é do interesse dos próprios colunistas (e alguns são cabeças coroadas do jornalismo tupiniquim) cobrarem a lista, sob pena de permanecerem todos sob suspeita.


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