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CLÓVIS ROSSI
Quem são as penas de aluguel?
SÃO PAULO - O vice-presidente José Alencar e o ministro Ciro Gomes fizeram gravíssimas acusações que, suspeito, ninguém vai cobrar.
Refiro-me à suposta (ou real) censura que ambos estariam sofrendo
por conta da crítica aos juros altos ou
por, segundo Ciro, pensar "alternativas que não sejam essa ortodoxia imposta por esse modelo econômico".
O grave nessa história não é tanto a
suposta censura. Embora nem o ministro nem o vice-presidente sejam de
fatos sabotados quando emitem suas
opiniões, o fato é que a ortodoxia
criou uma forte asfixia no debate público, marginalizando os dissidentes
(ou "debochando" deles, como prefere Ciro).
Grave mesmo é a acusação de que o
"deboche" vem de "articulistas alugados", segundo o ministro.
Ciro tem a obrigação elementar de
dar nome aos bois. Quem são os alugados? Quem os aluga?
É bom deixar claro que não me sinto atingido, porque um dos poucos
pecados que não cometo é defender o
modelo atual ou os juros altos. Mas
boa parte dos colunistas é fã de carteirinha do modelo.
Passam a ser todos suspeitos de estarem agindo não por convicção,
mas por sórdidos interesses.
Assim como fica a suspeita de que
alguém do próprio governo esteja
alugando articulistas para defender
o modelo. Afinal, quem, além das
instituições financeiras, tem o maior
interesse em que digam que a política
atual é boa, correta e, portanto, não
deve ser modificada? A resposta é óbvia: os setores do governo que a impuseram e a mantêm.
Não sei se o ministro terá a coragem de dar nome às penas de aluguel. Mas é do interesse dos próprios
colunistas (e alguns são cabeças coroadas do jornalismo tupiniquim)
cobrarem a lista, sob pena de permanecerem todos sob suspeita.
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