São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 2008

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SERGIO COSTA

Providência diabólica

RIO DE JANEIRO - No lançamento da candidatura de Marcelo Crivella à prefeitura, o presidente em exercício, José Alencar, admitiu ao repórter Raphael Gomide que interveio politicamente para viabilizar obra do senador na Providência. Embargado pela Justiça Eleitoral, o projeto começou sem autorização do Congresso e contra parecer do Comando Militar do Leste, que não queria patrulhar favela. Esse rolo data do fim do ano passado. A obra se arrasta desde então.
Apenas 30 casas foram reformadas no período -cinco por mês-, para um total previsto de 782 residências. A licitação para conclusão da maior parte do projeto só foi realizada nestas últimas duas semanas em que o morro da Providência andou freqüentando manchetes nobres. O Exército estava na favela havia uns seis meses.
Isso quer dizer que o auge do projeto Cimento Social dar-se-ia em plena reta final da disputa pela prefeitura. Uma vitrine eleitoreira que incluiria a imagem de moradias populares dignas, protegidas pelo braço forte e a mão amiga do Exército. José Alencar disse no sábado que a candidatura do "ex-bispo" não será afetada pelos incidentes na Providência porque ficou "demonstrado esforço de Crivella para levar benefício à população".
O fato é que se jovens militares não tivessem se estranhado com funkeiros jovens como eles, e a coisa não degringolasse em assassinato, chamando a atenção para todo tipo de irregularidade -inclusive as eleitorais que suspenderam a temporada-, o teatrinho seria mantido até o grande final em outubro. A tragédia da Providência desnudou seus atores: do presidente ao preto pobre e favelado, todo mundo fez lambança em algum ato. Com graves conseqüências. Bem Brasil.

sergioqc@uol.com.br


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