|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Um certo jeito de máfia
SÃO PAULO - A representação
que o líder do PMDB, no Senado,
Renan Calheiros, ameaça apresentar contra seu colega do PSDB, Arthur Virgílio, leva um forte aroma
de comportamento mafioso.
Não que Arthur Virgílio não mereça uma representação. Para o
meu gosto, aliás, merece diretamente uma punição porque confessou um ato de lesa-ética, qual seja
pagar salário a um funcionário de
seu gabinete que estava estudando
no exterior.
No outro caso, o do empréstimo
pedido a Agaciel Maia, ainda caberia investigação prévia. Afinal, tomar empréstimo não é crime nem
viola a ética. Depende de qual o preço cobrado pelo emprestador -e
você sabe bem o que quero dizer
com "preço", certo?
O problema é que Renan não
ameaça Virgílio porque este violou
a ética, mas porque o PSDB está entrando com a sua própria representação contra José Sarney, de quem
Renan é cão de guarda.
Em outras palavras, é o típico aviso mafioso: você não entra no meu
território que eu deixo seus trambiques em paz.
Nem surpreende, de resto, esse
tipo de comportamento em quem
foi obrigado a renunciar à presidência do Senado, para não correr o risco de perder o mandato. Ao renunciar, Renan renunciou também à
dignidade do cargo de senador, posto que todo senador inteiro e não
castrado tem o direito inalienável
de aspirar à presidência da Casa. Se
não tem condições de presidir o Senado, não tem também condições
de ser senador.
Mas o PMDB, claro, ainda lhe deu
o posto de líder, com o que todos os
liderados se nivelam por baixo. Que
avalizem comportamento mafioso
é apenas coerente.
Pena mesmo é que não há a menor esperança de que surja um
"pentito", um arrependido como na
Itália, que confesse todos os pecados de seus colegas. Aqui, não. São
"tutti buona gente".
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Superior incompleto
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Saturação Índice
|