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ELIANE CANTANHÊDE
Saturação
BRASÍLIA - Lula tira o pé do acelerador na defesa de Sarney, para evitar uma trombada com a opinião
pública e ficar falando sozinho.
Pesquisas do Planalto detectam o
óbvio: a dessintonia entre o que Lula diz e o que as pessoas acham da
crise Sarney. Nada que abale a sua
sólida popularidade, mas o suficiente para detonar uma dúvida: vale a pena insistir em defender o indefensável para agradar o PMDB?
Pelos sinais que chegam a Lula, a
família, os mais fiéis assessores e o
próprio Sarney estão saturados
com o tamanho e a insistência das
denúncias. A maior preocupação
nem é mais com o patriarca, é com o
primogênito Fernando. Enquanto
as acusações a Sarney partem principalmente de reportagens, as que
atingem Fernando são institucionais, da Polícia Federal.
Se o próprio alvo já não aguenta
mais e se Renan Calheiros está praticamente sozinho na guerra de representações no Conselho de Ética,
o risco de Lula é se deixar vencer
pela teimosia e virar arauto de causas perdidas. Não é de seu feito.
A questão ainda é a falta de um
"plano B", ou seja, um sucessor para
Sarney que não alimente a CPI da
Petrobras nem deixe a candidatura
Dilma à míngua. Curiosamente,
quem providencia uma alternativa
são, ora, ora, o PSDB e o PT, não para ajudar Lula, mas para tentar tirar
o Senado da crise. Eles articulam
uma licença de 60 dias (sem volta)
para Sarney e, ainda cuidadosamente, o senador Francisco Dornelles para a vaga dele.
O PMDB tem a maior bancada e o
"direito" à vaga, mas não tem nomes e não cederia a vez nem para o
PT, nem para o PSDB, nem para o
DEM -que abandonou Sarney.
Dornelles, único senador do PP, é
"o mais governista dos governistas", dialoga bem com a oposição e
tem um trunfo com o PMDB: foi
dos raros a ficar com Renan até o
fim de sua agonia. O obstáculo é o
DEM, mas todos vão ter que ceder.
Inclusive Lula, fazendo o que deveria ter feito desde o início: ficando
calado.
elianec@uol.com.br
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